UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

terça-feira, 19 de maio de 2015

A partir da teorização do "penso, logo existo uma pequena introdução sobre a relação delicada entre: Fé,Religião ,poder e cultura...

A história das grandes religiões monoteístas – o cristianismo, islamismo e o judaísmo – indica momentos de convivência respeitosa, mas também períodos de intolerância entre as diversas
religiões e a intra-religião. Os diversos fundamentalismos, cristão, judaico e islâmico, comprovam-no. O fundamentalismo se caracteriza pela resistência aos processos de modernização das sociedades, em todas as épocas. Os primeiros a utilizar este termo foram os protestantes americanos, os quais passaram a se autodenominar “fundamentalistas” com o objetivo de se diferenciarem do protestantismo considerado “liberal”. Para os “fundamentalistas” os protestantes liberais “distorciam inteiramente a fé cristã. Eles queriam voltar às raízes e ressaltar o “fundamental” da tradição cristã, que identificavam como a interpretação literal das Escrituras e aceitação de certas doutrinas básicas”. (ARMSTRONG, 2001: 10)
O mito do "ego" moderno ...

A modernidade emergiu sob o mito da criação da racionalidade, que levou o homem europeu, "civilizado", a confrontar-se com o outro, "desconhecido", "bárbaro", que devia ser "dominado", "evangelizado" e "humanizado". A partir da teorização do "penso, logo existo" de Descartes, da ciência de Newton e do idealismo hegeliano, cria-se a racionalidade moderna. Na Filosofia da História de Hegel, transparece a dominação ontológica da totalidade cultural e filosófica em que o europeu via-se em relação aos povos do "Novo Mundo" (as Américas): "Os americanos (índios) vivem como filhos, que se limitam a existir, longe de tudo o que signifique pensamentos e fins elevados". O mito da modernidade é uma gigantesca invenção: a vítima inocente é transformada em culpada, o vitimário culpado é considerado inocente.

Gente historicamente, a intolerância está presente na esfera das relações humanas fundadas em sentimentos e crenças religiosas. É uma prática que se autojustifica em nome de Deus; adquire o status de uma guerra de deuses encarnados em homens e mulheres que se odeiam e não se suportam. Heinrich Mann (1993:11), em A Juventude do Rei Henrique IV, fornece uma descrição que nos permite visualizar os efeitos da intolerância religiosa:


“Mas no país inteiro também se incendiava e matava em nome das crenças inimigas. A diferença das crenças religiosas era levada profundamente a sério, e transformava as pessoas que normalmente nada separava em inimigos extremados. Algumas palavras, especialmente a palavra missa, tinham efeito tão terrível que um irmão tornava-se incompreensível e de sangue estranho para outro”

Na Idade Média, a intolerância religiosa se intensificou contra os judeus e os heréticos em geral. “Os inquisidores caçavam dissidentes e os obrigavam a abjurar sua “heresia”, palavra que em grego significa “escolha”, escreve Armstrong. (Id.: 24) A Inquisição na Espanha oprimiu os judeus, forçou-os à conversão ao cristianismo e, finalmente, expulsou-os da península. Esta se tornaria uma prática comum em outras épocas e outras nações. Com a identificação entre religião e política, entre as diferentes facções do cristianismo (católicos,
protestantes, anglicanos etc.) e os respectivos governos representativos dos Estados-Nações, a perseguição aos dissidentes é intensificada e também motivada pelos interesses políticos em disputa. A inquisição espanhola, por exemplo, foi usada para “forjar a unidade nacional”. Mas a utilização deste recurso não se restringiu ao catolicismo romano. Como relata Armstrong: “Em países como a Inglaterra seus colegas protestantes também foram implacáveis com os “dissidentes” católicos, tidos igualmente como inimigos do Estado”. (Id.)


Com a formação e consolidação dos Estados nacionais modernos, a intolerância vincula religião e política, identificando uma à outra. O herege religioso é visto como um desafiante da ordem política monárquica; o dissidente político é encarado como um desafiador do dogma religioso adotado pelo Estado-nação. Segundo o filósofo inglês, ainda que o poder civil fosse capaz de converter os homens à religião, isto em nada contribuiria para a salvação destes. Ocorre que as diferentes autoridades que representam o poder civil adotam diferentes religiões, embora o mesmo Deus. Ora, Deus está além das nações e territórios delimitados e dominados pela autoridade civil. A presunção desta em cuidar e salvar as almas, conforme o seu entendimento de Deus, “salientaria o absurdo e a inadequação de Deus, pois os homens deveriam sua felicidade eterna ou miséria simplesmente ao acidente de seu nascimento”. Locke conclui, portanto, que “todo o poder do governo civil diz respeito apenas aos bens civis dos homens, está confinado para cuidar das coisas deste mundo, e absolutamente nada tem a ver com o outro mundo”. (Id.: 06).

As inquisições:
Sobre a “famigerada e terrível” Inquisição Espanhola:“A Inquisição na Espanha celebrou, entre 1540 e 1700, 44.674 juízos. Os acusados condenados à morte foram apenas 1,8% (804) e, destes, 1,7% (13) foram condenados em “contumácia”, ou seja, pessoas de paradeiro desconhecido ou mortos que em seu lugar se queimavam ou enforcavam bonecos.”

Sobre as famosas “caças às bruxas”.“Dos 125.000 processos de sua historia [tribunais eclesiásticos], a Inquisição espanhola condenou a morte 59 “bruxas”. Na Itália. 36 e em Portugal 4.”

E a propaganda de que “foram milhões”.

Constatou-se que os tribunais religiosos eram mais brandos do que os tribunais civis, tiveram

poucas participações nestes casos, o que não aconteceu com os tribunais civis que mataram milhares de pessoas.

Sentenças de um famoso inquisidor:“Em 930 sentenças que o Inquisidor Bernardo Guy pronunciou em 15 anos, houve 139 absolvições, 132 penitências canônicas, 152 obrigações de peregrinações, 307 prisões e 42 “entregas ao braço secular” ([citado em] AQUINO, Felipe. Para entender a Inquisição. 1 ed. Cleofas. Lorena. 2009, p. 23).

O Simpósio conclui que as penas de morte e os processos em que se usava-se tortura, representam números pouco expressivos, ao contrario do se imaginava e foi propagado. Os dados são uma verdadeira demolição e extirpação de muitas ideias falsas e fantasiosas sobre a Inquisição.

No Brasil, não é diferente. Impactado pelas transformações em âmbito mundial, carregamos ainda a triste realidade de uma dívida social, herança da nossa formação histórica e das políticas econômicas adotadas pelos diferentes governos. À desigualdade social que grassa em nossa sociedade, soma-se a discriminação racial e o preconceito de classe. Não se trata de repetir estatísticas, por demais conhecidas. Convivemos com as injustiças sociais e raciais, as quais são até transformadas em obras cinematográficas de sucesso (de certa forma, até a miséria se transforma em objeto de consumo e também fonte de renda). O abismo da desigualdade social se amplia e as esperanças são renovadas a cada governo. Em tais condições, o preconceito e a intolerância, aberto ou dissimulado, tende também a perdurar. Este se faz presente em todos os espaços: no trabalho, nas escolas, nas universidades, nos meios de comunicação em geral, etc. Contribuir para transformar esta realidade é também um compromisso dos intelectuais com responsabilidade social diante do mundo em que vive, com o seu país e com os que econômica e culturalmente desfavorecidos.

Nossa chagas...
À intolerância religiosa soma-se a intolerância política, cultural, étnica e sexual. A inquisição está presente no cotidiano dos indivíduos: no âmbito do espaço domestico, nos locais do trabalho, nos espaços públicos e privados. Ela assume formas sutis de violência simbólica e manifestações extremadas de ódio, envolvendo todas as esferas das relações humanas. A intolerância é, portanto, uma das formas de opressão de indivíduos em geral fragilizados por sua condição econômica, cultural, étnica, sexual e até mesmo por fatores etários. Muitas

vezes nos surpreendemos ao descobrir a nossa própria intolerância.

A construção de uma sociedade fundada em valores que fortaleçam a tolerância mútua exige o estudo das formas de intolerância e das suas manifestações concretas, aliado à denúncia e combate a todos os tipos de intolerância. Por outro lado, a tolerância pressupõe a intransigência diante das formas de intolerância e fundamenta-se numa concepção que não restringe o problema da tolerância/intolerância ao âmbito do indivíduo; esta é também uma questão social, econômica, política e de classe.


Concluindo...
Estas são questões presentes em nossa época e que demonstram a complexidade do tema – tanto é que a lei civil trata de proteger os indivíduos e coletividades em relação aos abusos da liberdade de expressão. John Locke nos faz ver que o combate à intolerância exige uma atitude de tolerância, mas também de intolerância – quando esta se faz necessário. Mas, quem decide quando este ou aquele indivíduo, esta ou aquela religião, esta ou aquela coletividade, não pode ser tolerada? Numa sociedade onde os interesses se contrapõem e se antagonizam, quem interpreta, por exemplo, quais são os “bons costumes” e o que é

prejudicial aos mesmos?

Afinal, quais as restrições à tolerância? Mesmo o mais ferrenho defensor da liberdade de expressão pode se ver diante de circunstâncias que a questione. Por exemplo, é possível tolerar a liberdade de expressão quando esta ataca a religião e os bons costumes? Imaginando uma sociedade democrática, é possível tolerar a liberdade de expressão para aqueles que colocam em risco a democracia? Podemos, em nome da tolerância, admitir a livre expressão de literatura de cunho racista e preconceituoso? É possível tolerar culturas que cometem atentados aos direitos humanos em nome do respeito ao multiculturalismo?

O QUE É TOMAR O NOME DE DEUS EM VÃO?

“Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” Êxodo capítulo 20, versículo 7


Os nomes das pessoas e das coisas são muito importantes. Tanto é assim que o grande escritor William Shakespeare chegou a escrever em uma das suas peças: “se a rosa tivesse outro nome, não cheiraria tão doce”.
- Hoje em dia, os historiadores já não utilizam o tema da inquisição como instrumento para defender ou atacar a Igreja. Diferentemente do que antes sucedia, o debate se encaminhou

para o ambiente histórico com estatísticas sérias” (Historiador Agostinho Borromeu, presidente do Instituto Italiano de Estudos Ibéricos: AS, 1998).

Bom que tudo isto tem mudado é sinal de esperança, tomara que haja uma nova reconstrução “hermenêutica”, sendo esta necessidade histórica. Que com uma justa crítica acurada, superem-se as ambiguidades historiográficas.

 Claudia Vitalino
Um afro abraço.
fonte:CHOMSKY, N. & HERMAN,. A trilateral. Petrópolis: Vozes, 1978/ O que o Tio Sam realmente quer. Brasília: Edunb, 1999/DUSSEL, E. O Encobrimento do Outro: A origem do mito da modernidade. Petrópolis: Vozes, 1993/HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Lecciones sobre la Filosofia de la Historia Universal. (Vorlesungen über die Philosophie der Geschichte). Trad. José Gaos. Madrid: Alianza Editorial, 1975.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Lutas Sócias nas primeiras décadas do Seculo XX : Revolta da Vacina...

Já sabemos que a abolição não trouxe grande prejuízo financeiro para os proprietários. Entretanto, os conflitos que ocuparam a polícia durante e depois do dia 13 de maio
denunciavam que, nem de longe, a Lei Áurea encerrava a tensão “racial” que a escravidão produzira, a história do Brasil, nos quais milhares na sua quase totalidade da população negra com fim da escravidão em 1888, e da monarquia em 1889,gerou instabilidade social e incertezas acerca do futuro do país comunidades em áreas pobres atingidas pela miséria. 

Com a abolição a sociedade não podia mais ser definida pela oposição entre senhores e escravos.Essa mudança social ameaçava a autoridade dos ex-senhores, em sua maioria brancos.Afinal, não era apenas o trabalho dos escravos que os proprietários perdiam,mas também a sua posição de mando parecia correr risco e gerou instabilidade social e incertezas acerca do futuro do país .Visando preservar a autoridade dos ex-senhores algumas providências foram tomadas providências foram tomadas.A necessidade de aumento dos contingentes policiais era tema cada vez mais freqüente nos editoriais jornalísticos e debates políticos nos meses que se seguiram a abolição. Chefes de polícia, delegados, jornalistas e deputados, s, dentre outros, imaginavam que a extinção do cativeiro pudesse despertar“ódios raciais”.

História:
Eles temiam que os negros interpretassem o fim da escravidão como oportunidade para contestar as desigualdades .Traduzia-se, assim, o desejo de manutenção de preconceitos raciais, de práticas autoritárias e de relações de dependência que haviam sustentado por tanto tempo a sociedade escravista...

O estatuto de pureza do sangue limitava o acesso determinados grupos sociais, como ciganos, indígenas, negros e mulatos a cargos públicos, e a certas irmandades. Desse modo eram garantidos os privilégios da nobreza.      Desde meados do século XIX a febre amarela e a varíola se tornaram endêmicas no Brasil.Logico que as políticas sanitárias não escaparam da lógica racial que orientava. Foi o que se notou, por exemplo, em relação ao controle da

febre amarela. Entre 1850 e 1904.essa doença vitimou no Rio de Janeiro principalmente a população branca, em especial imigrantes estrangeiros. Essa grande incidência de estrangeiros acometidos com a febre amarela desencorajava a imigração européia. Por isso acabar com ela virou prioridade dos sanitaristas. Já a tuberculose, que fazia mais mortes entre os negros, não teve a mesma atenção.

- Além disso, o número de vítimas das epidemias reforçava a idéia de que o Brasil era um país insalubre. O clima quente e as precárias condições de higiene comprometiam ainda mais as expectativas de que “grandes levas de europeus viessem depurar” o sangue brasileiro, como lamentou um político da época.

Medo, revolta de injeção
Os jornais, também carregados de preconceitos, incansavelmente, exigiam que fossem tomadas providências contra o que denominavam de “antros de imundície e desordem”. Julgava-se ser fundamental distanciar, social e geograficamente, essa população do centro da cidade, que também era o palco das decisões.políticas nacionais. Quando, em janeiro de 1893, na cidade do Rio de Janeiro, o cortiço conhecido por Cabeça de Porco foi destruído e esses moradores foram jogados dos cortiços para o relento; os jornalistas elogiaram a ação do prefeito Barata Ribeiro. Jornalistas, médicos, políticos e a polícia enxergaram naquela demolição um investimento na saúde e na segurança pública, e ficaram indiferentes à sorte dos moradores negros e pobres.

A revolta popular  das “Classes Perigosas”, como se referiam na época pessoas regressos da escravidão ou descendentes de escravo...

Revolta da Vacina foi uma revolta e manifestação popular ocorrida entre 10 a 16 de novembro de 1904 na cidade do Rio de Janeiro, Brasil . O início do período republicano no Brasil foi

marcado por vários conflitos e revoltas populares. O motivo que desencadeou isso foi a campanha de vacinação obrigatória, imposta pelo governo federal, contra a varíola.

Se liga:
Foram as pessoas expulsas de cortiços, como o Cabeça de Porco, que passaram a habitar os morros, criando as favelas.


"Tiros, gritaria, engarrafamento de trânsito, comércio fechado, transporte público assaltado e queimado, lampiões quebrados às pedradas, destruição de fachadas dos edifícios públicos e privados, árvores derrubadas: o povo do Rio de Janeiro se revolta contra o projeto de vacinação obrigatório proposto pelo sanitarista Oswaldo Cruz" (Gazeta de Notícias, 14 de novembro de 1904).

A campanha de vacinação obrigatória é colocada em prática em novembro de 1904.O motivo não eram filantrópico mais beneficiaria   positivamente a população, mais foi i aplicada de forma autoritária e violenta. Em alguns casos, os agentes sanitários invadiam as casas e vacinavam as pessoas à força, provocando revolta nas pessoas. Essa recusa em ser vacinado acontecia, pois grande parte das pessoas não conhecia o que era uma vacina e tinham medo de seus efeitos.

A resistência popular, quase um golpe militar, teve o apoio de positivistas e dos cadetes da Escola Militar. Os acontecimentos, que tiveram início no dia 10 de novembro de 1904, com uma manifestação estudantil, cresceram consideravelmente no dia 12, quando a passeata de manifestantes dirigia-se ao Palácio do Catete, sede do Governo Federal. A população estava alarmada. No domingo, dia 13, o centro do Rio de Janeiro transforma-se em campo de batalha: era a rejeição popular à vacina contra a varíola que ficou conhecida como a Revolta da Vacina, mas que foi muito além do que isto.

Para entender melhor os sangrentos dias de novembro vamos recuar novamente um pouco mais no tempo e ver como andavam as coisas no Rio, na virada do século 19 para o 20. Na época, a maioria dos moradores tinha motivos de sobra para reclamar da vida em geral e do governo em particular. Faltava tudo, desde empregos até esgoto, saneamento básico e
moradia. Cerca de 50% da população vivia de bicos ou serviços domésticos, se não era simplesmente desocupada. O censo de 1890 mostrou que havia 48,1 mil pessoas de “profissão desconhecida” ou desempregada – quase 10% do total de habitantes.

Para erradicar a varíola, o sanitarista Oswaldo Cruz convenceu o Congresso a aprovar aLei da Vacina Obrigatória (31 de Outubro de 1904), que permitia que brigadas sanitárias, acompanhadas por policiais, entrassem nas casas para aplicar a vacina à força foi o estopim da revolta: no dia 5 de novembro, a oposição criava a Liga contra a Vacina Obrigatória. Entre os dias 10 e 16 de novembro, a cidade virou um campo de guerra. A população exaltada depredou lojas, virou e incendiou bondes, fez barricadas, arrancou trilhos, quebrou postes e atacou as forças da polícia com pedras, paus e pedaços de ferro. No dia 14, os cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha também se sublevaram contra as medidas baixadas pelo Governo Federal

Oswaldo Cruz que tinha pouquíssima sensibilidade política , o projeto de regulamentação sai cheio de medidas autoritárias. O texto vaza para um jornal. No dia seguinte à sua publicação, começam as agitações no centro da cidade. A população não foi informada sobre a necessidade da vacina. Diversos setores da sociedade reagiram à vacina obrigatória: havia os que defendiam que a aplicação de injeções em mulheres era imoral, ou que a obrigatoriedade ia contra a liberdade individual. Outros, não compreendiam como uma doença poderia ser evitada com a introdução de seu próprio vírus no corpo.

Financiados pelos monarquistas que apostavam na desordem como um meio de voltar à cena política , jacobinos e florianistas usam os jornais para passar à população suas idéias conspiradoras, por artigos e charges. Armam um golpe de Estado, a ser desencadeado

durante o desfile militar de 15 de novembro. Era uma tentativa de retornar aos militares o papel que desempenharam no início da República. Mas, com a cidade em clima de terror, a parada militar foi cancelada. Lauro Sodré e outros golpistas conseguem, então, tirar da Escola Militar cerca de 300 cadetes que marcham, armados, para o palácio do Catete.


A população estava confusa e descontente. A cidade parecia em ruínas, muitos perdiam suas casas e outros tantos tiveram seus lares invadidos pelos mata-mosquitos, que agiam acompanhados por policiais. Jornais da oposição criticavam a ação do governo e falavam de supostos perigos causados pela vacina. Além disso, o boato de que a vacina teria de ser aplicada nas "partes íntimas" do corpo (as mulheres teriam que se despir diante dos vacinadores) agravou a ira da população, que se rebelou.

O confronto com as tropas governamentais resulta em baixas dos dois lados, sem vencedores. O governo reforça a guarda do palácio. No dia seguinte, os cadetes se rendem, depois que a Marinha bombardeara a Escola Militar, na madrugada anterior. No dia 16, o governo revoga a obrigatoriedade da vacina, mas continuam os conflitos isolados, nos bairros

da Gamboa e da Saúde. Dia 20, a rebelião está esmagada e a tentativa de golpe, frustrada. Começa na cidade a operação limpeza, com cerca de 30 mortos , 110 feridos, 1 000 detidos e 460 deportados

A rebelião foi contida, deixando 30 mortos e 110 feridos. Centenas de pessoas foram presas e, muitas delas, enviadas para o Acre.  


- Ao reassumir o controle da situação, o processo de vacinação foi reiniciado, tendo a varíola, em pouco tempo, sido erradicada da capital.


"Curiosidade: O cientista Carlos Chagas, que mais tarde descobriria a causa do mal de Chagas."

Em 1907, de volta de uma exposição na Alemanha, onde fora premiado por sua obra de combate às doenças, Cruz sente os primeiros sintomas da sífilis. Envelheceu rapidamente: aos 30 anos, tinha já cabelos brancos. A sífilis causou-lhe insuficiência renal. Mais tarde, surgiram problemas psíquicos. Os delírios se intensificaram e conta-se que muitas vezes foi

visto à noite, vagando solitariamente pelas dependências do Instituto Manguinhos, que ele próprio ajudara a projetar, em 1903, e que receberia o nome de Instituto Oswaldo Cruz, em 1908.

Em 1916, foi nomeado prefeito de Petrópolis. A cidade, envolvida em disputas políticas, não

recebe bem a nomeação. Oswaldo Cruz morreu, em 11 de fevereiro de 1917, com uma passeata de protesto em frente à sua casa.

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

Fonte:A revolta da vacina - SUPERINTERESSANTE. super.abril.com.br. Página visitada em 2009-05-14/Wikipédia, a enciclopédia livre/.BOMFIM, Manoel. O Brasil na América. 2ª ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1987.CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados – o Rio de Janeiro e a República que não foi.
São Paulo: Companhia das Letras, 1987.CHALHOUB, Sidney. Cidade febril: cortiços e epidemias na Corte Imperial. São Paulo:Companhia das Letras, 1996.CUNHA, Euclides da Cunha. Os Sertões (várias edições).
GUIMARÃES, Antônio Sérgio. Racismo e anti-racismo no Brasil. São Paulo: Fapesb;Editora 34, 1999.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças – cientistas, instituições e questão racial no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.VILLA, Marco Antonio. Canudos: o povo da terra. São Paulo: Ática, 1995

sexta-feira, 1 de maio de 2015

A Discriminação Racial X Processo deEensino e Aprendizagem

INTRODUÇÃO
O Brasil é um país composto por várias etnias: europeus, africanos, índios e outros povos que compõem a sociedade brasileira. Essas variações étnicas se refletem no espaço onde se inicia a vida cultural de um povo, a escola.
A vida escolar brasileira é composta por várias histórias, diferentes famílias, cada um com sua peculiaridade, o que proporciona ao professor uma interação com os alunos, onde se pode criar um processo didático interativo em que um aprende com o outro. Porém, na maioria das vezes, isso acaba não acontecendo.

Cabe ao professor também o papel de mediar e equilibrar a situação, pois em geral, os alunos mais pobres são os negros e correm os maiores riscos de serem discriminados.

Outro fator que tenta silenciar as diferenças culturais existentes na escola é o mito da democracia racial, em que são apresentados alunos de culturas diferentes como se fossem iguais o que acaba contribuindo negativamente para a preservação da riqueza cultural brasileira.

Mas o que mostra a realidade é um maior índice de evasão escolar por parte dos negros e também um elevado grau de analfabetos em relação aos outros grupos étnicos. Além disso, os próprios mecanismos didáticos estigmatizam o negro e pregam o etnocentrismo da raça

branca.

O livro didático não apresenta o negro como realmente deveria ser visto que, às vezes, ele é até apresentado como uma figura folclórica:

A família também é um fator predominante na questão da discriminação, muitas vezes, quando a criança comenta sobre uma situação de racismo sofrido por ela e os pais dão pouca importância ou nem acreditam, isso acaba gerando um mal-estar na criança.

Pode-se defender a hipótese que a discriminação racial afeta o desempenho escolar do aluno, já que esse é um problema que envolve uma questão social que influencia a aprendizagem e a vida do aluno, e esse problema será justificado em todo o trabalho. Para tanto, dividimos este trabalho tendo em vista os capítulos descritos abaixo.

1 – O RACISMO NUMA PERSPECTIVA HISTÓRICA

Neste primeiro capitulo, o trabalho monográfico versará sobre o panorama histórico das práticas intituladas como racistas. Trata-se de uma caracterização, de certa forma breve, que visa exemplificar algumas situações que foram entendidas como discriminatórias.

Na primeira parte deste capitulo, buscaremos, ao longo da historia da humanidade, algumas ações, descrições de pensamentos que, direta ou indiretamente, colaboraram para a definição de racismo que temos hoje.

1.1 As diferenças raciais e culturais na antiguidade

As diferenças raciais se constituem num dos grandes dilemas que, sem sombra de dúvidas, atravessa os períodos da evolução humana. Independentemente de ser de ordem física, cultural ou étnica ela sempre está presente para estigmatizar, rotular, marcar, elevando ou rebaixando pessoas.

É difícil afirmar como e em qual período da historia o racismo teve ponto inicial, porém o que se sabe é que já existem vários relatos de restrições a determinados tipos de pessoas por

conta de sua raça.

1.2 O racismo na modernidade

Nesta segunda parte do primeiro capítulo pretende-se tecer considerações acerca do modo como o racismo se constitui na época moderna. Para tanto, busca-se a caracterização do outro descoberto a partir das grandes navegações e domínio de novos territórios. Este outro será exemplificado aqui, a partir da figura do negro e do judeu.

1.3 Brasil: um país de diferenças e preconceitos

Nesta terceira parte do primeiro capítulo objetiva-se a constituição do povo brasileiro, bem como as situações de racismo presentes na história do nosso país, já que a presença evidente de uma diversidade populacional no cenário do Brasil.

Logo com a chegada dos portugueses no Brasil por volta do século XVI, inicia-se um processo gradativo de discriminação racial, pois os portugueses tomam as terras que outrora eram dos índios. Mais tarde, utilizando a mão-de-obra escrava dos negros, impulsionaram a economia de seu país, explorando todas as riquezas brasileiras.

Com o fim da escravidão, o Brasil começa a utilizar o trabalho dos imigrantes, os europeus

principalmente italianos começam a vir e dessa maneira que é composta a sociedade brasileira, negros, brancos, índios, asiáticos, europeus entre outros.

2- O AMBIENTE ESCOLAR E O RACISMO

O documento intitulado Parâmetros Curriculares Nacionais introduziu a temática denominada Pluralidade Cultural para abordar entre outros aspectos, uma crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, provendo assim, uma discussão as práticas racistas dentro da sala de aula.

2.1 Diferenças e preconceitos na escola

É notável que, embora reconheçamos a diversidade do nosso país, fazemos parte de uma sociedade que, de verdade, não conhece o Brasil de fato, pois sempre que tentamos definir os povos que fazem parte do território brasileiro nos utilizamos de estereótipos que descaracterizam a cultura dos mesmos.

Por não conhecer o país, não entender a sua história e todos os problemas vividos aqui, ao longo da colonização, sempre tivemos muito receio de lidar com este tema publicamente e é por isso que muitos professores se mostram, hoje, incapazes de lidar com temáticas como o racismo em sala de aula. Contudo, práticas racistas existem diariamente nas escolas.

Consciente ou não, alunos, professores, funcionários se vêem em situações preconceituosas.

2.2-A questão do racismo no livro didático

O livro didático é um instrumento muito importante no cotidiano escolar, pode se dizer que ele é um grande responsável pelo sucesso ou pelo fracasso da escola.

2.3- A discriminação racial e seu efeito na formação educacional da população

A discriminação racial nos revela um triste quadro de desigualdade no contexto educacional e social da população. Números mostram que negros e pardos estudam menos que os brancos, isso é um quadro que sem sombra de dúvidas prejudica em muito as pessoas de cor negra...

Se liga:
Declarações e leis internacionais contra a discriminação racial

Em 1919, criou-se uma proposta chamada Proposta de Igualdade Racial para incluir uma provisão de igualdade racial no Pacto da Liga das Nações, a proposta foi apoiada pela maioria mas não foi adotada na Conferência de Paz de Paris.

Em 1943, o Japão e seus aliados declararam que esforços para abolição da discriminação racial era um objetivo comum, na Grande Conferência do Leste Asiático. O Artigo I da Carta

das Nações Unidas de 1945 inclui "promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça" como um propósito da ONU.

Um afro abraço.

fonte:monografias.brasilescola.com/foto net

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Salve Jorge! Ogum iê do Brasil!!!


Salve Jorge: a histórica polêmica ao culto dos Orixás no Brasil.
   

Zeca Pagodinho & Jorge BenJor - Ogum\Taj Mahal

sábado, 18 de abril de 2015

Uma reflexão sobre: Consciência Cristã e o o Holocausto judaico e negro...

Cristianismo (do grego Xριστός, "Christós", messias) é uma religião abraâmica monoteísta centrada na vida e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré, tais como são
apresentados no Novo Testamento. A fé cristã acredita essencialmente em Jesus como o Cristo, Filho de Deus, Salvador e Senhor. A religião cristã tem três vertentes principais: o Catolicismo, a Ortodoxia Oriental (separada do catolicismo em 1054 após o Grande Cisma do Oriente) e o protestantismo (que surgiu durante a Reforma Protestante do século XVI). O protestantismo é dividido em grupos menores chamados de denominações. Os cristãos acreditam que Jesus Cristo é o Filho de Deus que se tornou homem e o Salvador da humanidade, morrendo pelos pecados do mundo. Geralmente, os cristãos se referem a Jesus como o Cristo ou o Messias.
Os seguidores do cristianismo, conhecidos como cristãos, acreditam que Jesus seja o Messias profetizado na Bíblia Hebraica (a parte das escrituras comum tanto ao cristianismo quanto ao judaísmo). A teologia cristã ortodoxa alega que Jesus teria sofrido, morrido e ressuscitado para abrir o caminho para o céu aos humanos; Os cristãos acreditam que Jesus teria ascendido aos céus, e a maior parte das denominações ensina que Jesus irá retornar para julgar todos os seres humanos, vivos e mortos, e conceder a imortalidade aos seus seguidores. Jesus também é considerado para os cristãos como modelo de uma vida virtuosa, e tanto como o revelador quanto a encarnação de Deus. Os cristãos chamam a mensagem de Jesus Cristo de Evangelho ("Boas Novas"), e por isto referem-se aos primeiros relatos de seu ministério como evangelho

Não é fácil refletir sobre o holocausto - é penetrar num mundo de horror, de ódio, de perseguição, de cegueira ideológica, de estupidez, de equívocos, de conivências, de omissões e de impotência. Mas a tarefa, ainda que dolorosa, é necessária para que o passado não seja recalcado, a consciência moral não seja obscurecida e a humanidade não fique diminuída, ainda que a sensibilidade seja um tanto machucada.

A história humana revela o que o ser humano é e do que ele é capaz. Pensar o holocausto é voltar-se para a dimensão mais obscura e terrível da existência humana e ver que o ser humano foi capaz de produzir uma tragédia tão grande que nos faltam palavras suficientes para expressar o seu horror. O mundo não é mais o mesmo antes e depois do holocausto. A presença do mal é de tal maneira sufocante que muitos se recusam a aceitar um sentido para a vida. Como dizia Theodore Adorno:
"Depois de Auschwitz, a sensibilidade não pode deixar de ver em toda afirmação da positividade da existência uma charlatania, uma injustiça para com as vítimas, e tem de revoltar-se contra a extração de um sentido, por abstrato que seja, daquele trágico destino".

Um sobrevivente do holocausto declarou que a Europa se tornou um lago de sangue judeu congelado. No continente de Beethoven, de Goethe e da Revolução Francesa, as idéias do humanismo, cristianismo e racionalismo e os frutos da Revolução Francesa foram

terrivelmente despedaçados. Muitos cristãos transformaram suas cruzes em suásticas.

O consciência cristã se depara com o problema do sentido da existência, de como falar de Deus depois de Auschwitz, e com outro não menos grave: como é possível que esta tragédia tenha ocorrido na Europa, em países de longa tradição cristã? Até que ponto esta tradição favoreceu o surgimento do anti-semitismo, do nazismo e de regimes que a ele se aliaram? Que papel desempenharam os cristãos e suas igrejas naqueles acontecimentos? Que formas de colaboração, omissão e conivência existiram? Ou mesmo que formas de resistência e denúncia existiram também? Estas perguntas e outras relacionadas têm questionado a consciência cristã. Os cinquenta anos do final da Segunda Guerra mundial e o final do segundo milênio da era cristã têm motivado muitas reflexões e pronunciamentos coletivos. O Papa João Paulo II, em 1994, escreveu uma carta sobre a chegada do terceiro milênio, onde diz:
"Quando o segundo milênio já se encaminha para o seu termo, é justo que a Igreja assuma com maior consciência o peso do pecado dos seus filhos, recordando todas aquelas circunstâncias em que, no arco da história, eles se afastaram do espírito de Cristo e do seu Evangelho, oferecendo ao mundo, em vez do testemunho de uma vida inspirada nos valores da fé, o espetáculo de modos de pensar e agir que eram verdadeiras formas de anti-testemunho e de escândalo".

No mundo católico surgiram três importantes pronunciamentos: uma carta pastoral dos bispos alemães, em 1995, na comemoração dos 50 anos do final da Segunda Guerra; uma declaração de arrependimento dos bispos franceses das regiões onde houve campos de concentração de judeus, em setembro de 1997; e um documento do Vaticano, da Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo, de 16 de março de 1998, intitulado: Nós Recordamos - uma reflexão sobre a Shoah. "Shoah" é uma palavra hebraica que significa extermínio e devastação, e é usada para se referir ao holocausto. Já o termo "holocausto" vem do grego e pertence ao mundo religioso: significa o sacrifício em que uma oferenda é inteiramente consumida pelo fogo. A idéia de holocausto aplicada à matança de judeus nos campos de concentração nazistas quer significar a abrangência da matança, que foi um verdadeiro genocídio. Estes campos de concentração exterminaram 6 milhões de judeus e 5 milhões de não-judeus, que incluíam poloneses, ciganos, comunistas, homossexuais e opositores do nazismo. O documento do Vaticano teve ampla repercussão na imprensa em todo o mundo. Infelizmente, os grandes jornais brasileiros não o publicaram na íntegra. A nossa reflexão sobre o holocausto e a consciência cristã quer abordar os grandes temas tratados neste documento e fazer a nossa apreciação.

A História das Relações Cristão-Judaicas
Para entendermos o anti-semitismo e o holocausto é preciso compreender a história das relações cristão-judaicas desde o princípio. Só assim podemos ter uma explicação mais ampla e satisfatória dos acontecimentos. Mesmo dispondo de um espaço limitado, tentaremos mostrar alguns dados importantes dessa relação, ainda que correndo o risco de simplificação.

O cristianismo é uma religião judaica. Do judaísmo recebeu o monoteísmo, a noção de Deus pessoal, o conceito de Criação, o homem como imagem e semelhança divina, o conceito de Aliança, o Decálogo, a maior parte das Sagradas Escrituras, a idéia messiânica, a fé na ressurreição dos mortos e muitos outros conteúdos. Podemos dizer que o cristianismo é uma releitura do judaísmo.

Jesus de Nazaré era judeu e filho de mãe judia. Circuncidado ao 8º dia, frequentava a sinagoga e o Templo de Jerusalém. Conhecia a Torá (Lei de Moisés) e a observava piedosamente. Era um fruto genuíno do judaísmo do Séc.I. Os seus discípulos também eram judeus. Depois da sua morte, eles se reuniam no Templo de Jerusalém. Eram chamados "os que pertenciam ao caminho" (At 9,2). Eram uma seita do judaísmo. Ainda não tinham o nome de cristãos. Apesar de Jesus ter morrido por incitação dos chefes judeus e seus seguidores, isso não o colocava fora do judaísmo. Muitos profetas tinham morrido de forma semelhante.

Os membros da nova seita passam a ser chamados cristãos quando começam a incorporar os gentios de origem grega, em Antioquia (At. 11,19-25). Nesta época surge uma polêmica: os gentios convertidos deveriam ou não ser circuncidados. O apóstolo Paulo toma partido da

não-circuncisão. Um forte conflito se instaura. A recém-formada Igreja acaba decidindo em favor da não-circuncisão dos gentios. Isto marca a primeira ruptura com o judaísmo. Além disso, a morte violenta do Diácono Estevão e do Apóstolo Tiago favorece a hostilidade entre os dois grupos.

A expansão do cristianismo entre os gentios vai lhe dando uma configuração distinta do judaísmo. Entretanto, o judaísmo, segundo Paulo, é a boa oliveira na qual foram enxertados os ramos da oliveira selvagem, que são os gentios (Rm 11, 17-24). A oposição dos judeus é obra da providência divina para que o Evangelho seja anunciado aos gentios. Os judeus continuam sendo o povo dos patriarcas, da aliança, da adoção filial, do culto e das promessas divinas, pois dons e a vocação de Deus são irrevogáveis (Rm 9, 4-5; 11, 28-29).

Nos primeiros séculos da Igreja, há uma Ecclesia ex-circumcisione e uma Ecclesia ex-gentilibus, isto é, uma Igreja de judeus (circuncidados) e uma Igreja de gentios (não-circuncidados). Da Igreja da Circuncisão dá testemunho a Carta de Tiago, onde a assembléia cristã é chamada sinagoga (Tg 2,2). Os dois grupos formavam uma unidade eclesial, que logo passou a se chamar Igreja Católica, isto é, universal.

Nos anos 70 d.C., os romanos destróem o Templo de Jerusalém, arrasam a cidade e massacram os judeus. Os judeus restantes, cuja maioria pertencia ao grupo dos fariseus, tentam reorganizar o judaísmo, sem templo e sem sacerdotes. Por volta do ano 85 d.C., reúnem-se em Jâmnia, liderados pelo Rabino Gamaliel II e tomam uma série de medidas. Uma das orações judaicas, a Oração das 18 Bênçãos, passa a ter uma maldição contra os cristãos:

O Documento Sobre o Holocausto
O tema do holocausto não podia ser ignorado. Há muitos anos que grupos e pessoas envolvidas no diálogo cristão-judaico vêm solicitando um documento da Santa Sé sobre este assunto. Várias sugestões foram enviadas e o documento finalmente foi publicado, em março de 1998. A publicação no L’Osservatore Romano traz uma carta de João Paulo II à Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo, desejando que o documento ajude a sanar as feridas das incompreensões e das injustiças do passado e favoreça a memória na construção de um futuro onde a Shoah jamais seja possível.

O documento está dividido em cinco partes e a sua sinopse é a seguinte:
1. O dever de memória do extermínio. A condenação do genocídio. Pede-se a participação dos cristãos na reflexão e aos judeus que escutem.

2. Trata-se de uma memória moral e religiosa do pior sofrimento do povo judaico.

3. Balanço histórico bastante negativo das relações cristão-judaicas, agravado pelas teorias racistas que logo foram apropriadas pelo nazismo, ambos condenados pela Igreja Católica.

4. Anti-semitismo nazista e a Shoah. Diferença entre antijudaísmo dos cristãos e o anti-semitismo racista. Falta de solidariedade de muitos cristãos. Lamento pela atitude negativa dos filhos da Igreja. A ação de Pio XII em favor dos judeus. Agradecimento das autoridades judaicas pelas vidas salvas. Condenação de perseguições raciais e genocídios. Menção a outros grandes massacres deste século.

5. Olhando juntos para o futuro. Consciência das raízes judaicas da fé cristã. Anseio de melhores relações com o judaísmo.



Pontos Controversos - a ascensão do nazismo
Alguns pontos do documento causaram insatisfação, por afirmações tímidas, unilaterais ou omissão. Isto fica evidente quando comparado com as declarações do episcopado francês e as do episcopado alemão. O documento da Santa Sé lembra que, no início dos anos 30, a Igreja na Alemanha condenou o racismo e o nazismo, pela ação de jornalistas católicos, de membros do clero e do ensinamento público dos bispos, em declarações coletivas. No entanto, quando Hitler chegou ao poder, logo depois o parlamento alemão teve que votar medidas que lhe concediam plenos poderes. A Igreja e o Zentrumspartei, o partido de centro que aglutinava os católicos, decidiram votar a favor de Hitler, de modo que ele se tornou ditador com os votos católicos. Convém lembrar que surgiu a possibilidade de a Igreja fazer uma concordata com o governo alemão. Concordata é um tratado internacional entre a Santa Sé e um país que define direitos e deveres. A concordata com o III Reich permitiria à Igreja assegurar a sua liberdade religiosa, bem como a autonomia das instituições católicas: escolas, hospitais, instituições de caridade, imprensa e associações juvenis, de artesãos e operárias. Na emergência de um regime totalitário que tem por natureza cooptar ou destruir o que é diferente, este tratado era um instrumento jurídico que defenderia a Igreja da invasão totalitária e garantiria a ela os direitos que possui uma comunidade religiosa numa sociedade liberal...

O problema desta concordata foi a legitimidade conferida ao regime, tanto internamente quanto externamente, além dos novos poderes que Hitler passou a dispor com a aprovação do parlamento. É preciso lembrar também que nos anos 30 havia um forte descrédito dos regimes liberais, agravado pela crise de 29. Muitos achavam que só os regimes fortes poderiam é poderiam resolver os problemas. Isto explica o surgimento dos regimes totalitários e autoritários, inclusive no Brasil. Além disso a Igreja tinha saudades da cristandade e não prezava o liberalismo político. Pio XI falava da "peste do liberalismo laicista". Um outro perigo ameaçava a Igreja: o comunismo. Este era considerado o pior de todos - era intrinsecamente mau e muitos o comparavam à peste negra, que na Idade Média dizimou um terço da população da Europa. Assim, uma concordata com um regime de direita era considerada um mal menor. Alguns desses regimes, inclusive, acenavam com uma deferência especial à Igreja e com o combate aos seus adversários e inimigos, numa espécie de reconquista parcial da cristandade. Foi o caso da Itália facista, da França de Pétain, da Espanha de Franco e da Croácia de Pavelic, a antemurale christianitatis, uma fortaleza avançada da Europa católica nos Bálcãs, que fazia frente aos sérvios ortodoxos e aos muçulmanos.

Hitler não cumpriu a concordata. O regime totalitário começou a cercear as instituições católicas de diversas maneiras e a propaganda nazista elaborou uma releitura do cristianismo à luz da ideologia da supremacia da raça ariana. Era um cristianismo despido de sua judaicidade, sem o Antigo Testamento. A Igreja era um corpo estranho naquele mundo e deveria ser cooptada ou destruída.
"Que não haja esperança para os apóstatas e que o reino do orgulho seja prontamente erradicado em nossos dias, os nazarenos (cristãos) pereçam subitamente, que sejam cancelados do livro dos vivos e não sejam contados no número dos justos. Bendito sejas tu, ó Senhor, que abaixas os orgulhosos"

A condenação do anti-semitismo
Quanto ao anti-semitismo, o documento do Vaticano faz uma distinção nítida entre o anti-semitismo racial e o anti-semitismo cristão, chamado anti-judaísmo. O primeiro se funda na negação da unidade do gênero humano, criado à imagem e semelhança de Deus, e na negação da igual dignidade de todas as raças e povos (IV); afirma uma origem diferenciada das raças e torna legítima a desigualdade entre elas. O segundo se baseia em interpretações errôneas e injustas do Novo Testamento, atribuindo uma culpa aos judeus e gerando sentimentos de hostilidade para com este povo. Tais interpretações circularam por demasiado no mundo cristão, mas não são da parte da Igreja enquanto tal (III). O primeiro foi apropriado pelo nacional-socialismo num regime neopagão, que não reconhece qualquer

realidade transcendente como fonte da vida e critério do bem moral. Este regime transformou um grupo humano e o Estado em valor absoluto e decidiu cancelar a existência do povo judaico.

A Igreja pecadora
O documento do Vaticano não fala de pecados ou faltas da Igreja ou da Hierarquia, mas apenas de faltas e pecados "de seus filhos". Isto contrasta enormemente com os outros dois pronunciamentos. Os bispos franceses lembram que em 41, quando cerca de 40 mil judeus estavam internados nos campos de concentração franceses, num momento em que o país estava parcialmente ocupado, abatido e prostrado, a hierarquia considerou como seu dever primeiro proteger os fiéis e assegurar da melhor maneira a vida de suas instituições. Esta prioridade absoluta, reconhecem, ocultou a exigência bíblica de respeito a todo ser humano, criado a imagem de Deus. Na sua maioria, as autoridades eclesiásticas foram levadas por uma obediência demasiada ao poder estabelecido e ficaram paralisadas pelo conformismo e pelo medo de represálias. Não foram capazes de perceber, prosseguem, que a Igreja deve exercer um papel de suplência num corpo social fraturado. Quando outras instituições foram caladas, a sua palavra, pelo prestígio que possui, poderia fazer frente ao irreparável. Confessam que o silêncio foi uma falta. Reconhecem que a Igreja falhou, falhou como educadora de consciência e que é responsável, junto com o povo cristão, por não ter prestado auxílio quando o protesto e a proteção eram possíveis e necessários. Os bispos esclarecem que não querem julgar nem a consciência nem a pessoa dos seus predecessores que viveram naquela época, mas que estão considerando as ações e suas consequências32. E concluem:
"Esta falha da Igreja da França e sua responsabilidade pelo povo judeu fazem parte de sua história. Nós confessamos esta falta, imploramos o perdão de Deus e pedimos ao povo judeu que ouça a nossa palavra de arrependimento".

Conclusão
Para "sanar as feridas das incompreensões e das injustiças do passado", como desejava o então Papa João Paulo II,  e disse "É preciso ir bem mais além do que foi este documento. Ainda existe uma outra chaga aberta: a fuga de oficiais nazista e facistas croatas no final da guerra com a colaboração de membros do clero e da diplomacia da Santa Sé". Este assunto ainda não está devidamente esclarecido e nem é mencionado no documento.

Este documento está longe de por fim ao debate histórico e inter-religioso sobre o cristianismo e o holocausto. Os principais problemas não estão no que ele diz, mais no que ele não diz. O que ele diz contudo, tem uma difusão mundial em ambientes católicos e pode ajudar a consciência de muitos a despertar para um problema que eles nem suspeitam que existe. Os pontos obscuros e as lacunas estão sendo explicitados e discutidos na imprensa, em diversas publicações e em ambientes eclesiais e de diálogo inter-religioso.

Relembrando que a Igreja em seus primordio...
Ano um
“Os deuses não estavam mais, e Deus não estava ainda”
O Império Romano garantia a liberdade de culto. O ateísmo e a razão dominavam. É nessa época que nasce um sujeito que, segundo dizem certos judeus, perdeu o juízo porque leu o Tora demasiadamente jovem. Ele funda uma seita que visa proibir o culto dos outros deuses, exceto o seu. O sujeito é finalmente morto, mas a seita se expande com o êxito que se conhece.

O culto da personalidade do fundador da seita atinge, nos cristãos, um nível que mesmo o estalinismo não conseguirá igualar: o fundador é proclamado “verdadeiro homem e verdadeiro Deus” (“Deus-Homem”, em linguagem comum). Os que duvidam disso são proclamados imediatamente hereges, e sofrerão mais tarde os raios da Inquisição. A partir do século IV da nossa era, começará o assassinato dos não-crentes pelos cristãos.


O holocausto Negro, sim o holocausto negro...
Os navios negreiros trouxeram pelo menos 13 milhões de pessoas da África para as Américas, na maior deportação da história mundial. Seu martírio começou no ano 1492, ano da chegada (e não descoberta) de Cristóvão Colombo às Américas. Neste final do século XV, a Espanha vivia uma época de grande prosperidade comercial e também de grande conturbação social. No mesmo ano de 1492, os reis católicos da Espanha, Isabel e Fernando, davam aos judeus a escolha entre a conversão, a morte ou o exílio.

No estudo de Ney, surpreende a relação que este faz entre a procura desenfreada pelo lucro e o fato de que, conforme publicou a revista Der Spiegel em 1998, “O comércio de escravos estava nas mãos de judeus”.

“Não existe mais dúvidas de que o povo judeu foi o que cometeu este crime: eles tinham o monopólio, eles conservavam as condições comerciais, eles possuíam os navios, e era

deles o lucro. Aqui não há mais nada a provar. Tudo é conhecido. O último navio de escravos, o navio ORION, pertencia à companhia de navegação judaica Blumenberg, de Hamburgo”.

Parece ser injusto culpar aqui todo um povo pelo ato de alguns de seus membros. Mesmo apesar do fato de alguns judeus terem sido protagonistas do genocídio contra os negros africanos – NR.


Na Bíblia há várias passagens relativas a escravos (especialmente o Antigo Testamento). Quase sempre são prescrições atenuantes. Por exemplo: não se deve entregar um escravo fugitivo, nem utilizá-lo em tarefas degradantes ou serviços desnecessários; ao escravo é reservado o dia de descanso (sábado). Em resumo: apesar de reconhecer a escravidão, a religião a atenuava. Essa foi basicamente a herança do mundo antigo no que diz respeito aos preceitos religiosos.
Com a ascensão social e política da Igreja na Idade Média e a consequente cristianização das monarquias, a pressão a favor dos pobres, das mulheres e dos escravos tornou-se maior. Por exemplo, uma lei do século VI (sob influência da Igreja) afirmava que nenhum escravo poderia ser preso caso estivesse em um altar católico: seu dono deveria pagar uma pesada multa caso fizesse isso. Nesses séculos conhecidos pelos especialistas como Alta Idade Média (V-X) o Catolicismo que se difundiu na Europa pressionou aquelas sociedades a considerar a escravidão algo ultrajante aos seres humanos, já que, pela fé em Jesus Cristo, somos todos filhos de Deus.
Apesar disso, a escravidão só lentamente diminuiu – para dar lugar, pouco a pouco, à servidão. Com ela, a dignidade humana estava muito acima da escravidão. Nessa, o escravisado era uma coisa que falava; naquela, o servo tinha deveres (e muitos!) – mas também direitos (como, por exemplo, a inalienabilidade da terra).

Mas os homens são dificilmente civilizados (e com revezes regulares). Mesmo com a pregação regular da Igreja, na Europa medieval a escravidão continuou tão comum que teve que ser reiteradamente condenada pela Igreja (Concílios de Koblenz, em 922, de Londres, em 1022, e no Conselho de Armagh, ocorrido na Irlanda em 1171). Naquele Concílio de Londres, por exemplo, foi decidido: “Que futuramente, na Inglaterra, ninguém queira entrar naquele comércio nefasto no qual estavam acostumados a vender homens como animais irracionais” (artigo 27).

O problema era que as antigas leis romanas, seu código civil, reorganizado nos anos 529-534 pelo imperador bizantino Justiniano I como Corpus Iuris Civilis (Conjunto do Direito Civil), regulamentava a escravidão. Segundo ele, embora o estado natural da Humanidade fosse a liberdade, os direitos dos povos poderiam, no entanto, substituir a lei natural e escravizar pessoas. Basicamente um escravo era: 1. alguém cuja mãe era escrava, 2. qualquer pessoa capturada em batalha, . qualquer um que se vendeu para pagar uma dívida (fato comum nos primeiros séculos medievais).

Com a ascensão do Cristianismo, o direito também se cristianizou. Os advogados medievais, a partir do século XI, chegaram à conclusão que a escravidão era contrária ao espírito cristão. Isso para cristãos (e que não me venha nenhum fariseu acusar a Igreja de não legislar para não cristãos). Em contrapartida, por exemplo, foi o Islã quem difundiu largamente a escravidão. Vejamos isso com mais pormenor.

Começo com uma citação do grande historiador Fernand Braudel (1902-1985): “O tráfico negreiro não foi uma invenção diabólica da Europa. Foi o Islã, desde muito cedo em contato com a África Negra através dos países situados entre Níger e Darfur e de seus centros mercantis da África Oriental, o primeiro a praticar em grande escala o tráfico negreiro (...). O comércio de homens foi um fato geral e conhecido de todas as humanidades primitivas. O Islã, civilização escravista por excelência, não inventou, tampouco, nem a escravidão nem o comércio de escravos”.

Aqui chegamos à escravidão negra. Muitos séculos ANTES da chegada dos brancos europeus à África, tribos, reinos e impérios negros africanos praticavam largamente o escravismo, exatamente como os berberes (e demais etnias muçulmanas). Os europeus do século XVI tinham verdadeiro pavor de deixar o litoral ou mesmo desembarcar de seus navios e avançar para longe da costa e capturar escravos. Estes eram trazidos pelos próprios africanos, que tinham grandes mercados espalhados pelo interior do continente, abastecidos por guerras entre as tribos, ou mesmo puro sequestro. Isso pode ser facilmente comprovado, por exemplo, com a descrição do império de Mali feita pelo cronista muçulmano Ibn Batuta

(1307-1377), um dos maiores viajantes da Idade Média, e o depoimento de al-Hasan (1483-1554) sobre Tumbuctu, capital do império de Songai. Ademais, havia tribos africanas que praticavam sacrifícios humanos, naturalmente de escravos. Às vezes, para interromper a chuva, mulheres negras (e escravas) eram crucificadas.
Entrementes, a Igreja Católica, reiteradamente, condenava a escravidão. Há inúmeras bulas papais a respeito: Sicut Dudum (1435) – Eugênio IV manda libertar os escravos das ilhas Canárias; em 1462, Pio II instrui os bispos a pregarem contra o tratamento de escravos negros etíopes, e condena a escravidão como um “crime tremendo”; Paulo III, na bula Sublimus Dei (1537) recorda aos cristãos que os índios são livres por natureza (isto é, ao contrário dos negros, eles não praticavam a escravidão); em 1571 o dominicano Tomás de Mercado declarou desumana e ilícita a escravidão; Gregório XIV (Cum Sicuti, de 1591) e Urbano VIII Commissum nobis, de 1639) condenaram a escravidão. 


A historia é historia e na maioria das vezes contada pelos dominadores e sendo assim pra finalizar uma releitura e sempre bem vinda...
É claro que a imagem que a grande mídia nos transmite é bem diferente desta, pois ela atende em sua grande parte a interesses sionistas. Como eles não podem rebater as teses apresentadas, só resta ignorar ou difamar a obra. E justamente ciente disso, o livro da comunidade religiosa norte-americana dá um conselho aos seus leitores sobre a relação entre os negros e judeus, e que estendemos às comunidades quilombolas brasileiras:

… é uma relação que necessita de análises adicionais. [...] Ela é torcida e mal entendida, e é realmente tempo de se ocupar novamente com os documentos e examinar The secret Relationship between Blacks and Jews.”     

Líderes pan-africanos como Kwame Ture, Louis Farrakhan e mesmo Malcolm X estavam

conscientes de que havia algo de muito estranho na relação entre o tráfico negreiro e o judaísmo internacional – coisa aparentemente pouco manifestada no Brasil.

Um afro abraço.


fonte: See more at: http://www.ricardocosta.com/artigo/igreja-catolica-e---cravidao#sthash.5RXqwCzb.dpuf/Wikipédia, a enciclopédia livre

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Racismo institucional e as favelas do Brasil

O argumento central deste artigo consiste em que, no Brasil, negros sofrem não só a
discriminação racial devida ao preconceito racial e operada no plano privado, mas também e sobretudo o racismo institucional, que inspira as políticas estatais que lhes são dirigidas e se materializa nelas. Trata-se de discriminação racial praticada pelo Estado ao atuar de forma diferenciada em relação a esses segmentos populacionais, introduzindo em nossas cidades e em nossa sociedade, pela via das políticas públicas, “um corte entre o que deve viver e o que deve morrer”, a faxina étnica.

A expressão, utilizada para evidenciar as relações entre o racismo e as políticas estatais para territórios e populações negras no Brasil, não é mera retórica. Antes, sustenta que as elevadas taxas de homicídio e de “autos de resistência”5 nos territórios de maioria negra, as políticas de remoção e de despejo de sua população, os altos índices de encarceramento de negros pobres, a precariedade das políticas públicas de habitação, saúde e educação para o conjunto da população negra e o desrespeito a suas tradições culturais e religiosas não são sucessivos produtos do acaso ou do mau funcionamento do Estado,6 mas traduzem o racismo institucional que opera no Brasil bem ao largo de qualquer perspectiva de integração social e urbana desses segmentos populacionais pela via da cidadania.


Esse modo específico de gestão estatal das populações negras e de seus territórios de moradia − que “faz viver e deixa morrer”, como diz Foucault − pode ser identificado no âmbito das políticas públicas praticadas pelo Estado brasileiro. Examinemos alguns dados empíricos que expressam o sentido e o escopo de sua formulação e de sua realização.


Os negros são as maiores vítimas de homicídio. No período de 2002 a 2008, segundo dados do Mapa da violência 2011,7 o número de vítimas brancas na população brasileira diminuiu 22,3%; já entre os negros, o número de vítimas de homicídio aumentou 20,2%. Os dados são mais dramáticos quando se consideram os jovens: o número de homicídios de jovens brancos

caiu, no período, 30%, enquanto o de jovens negros cresceu 13%, o que significa que a brecha de mortalidade entre brancos e negros cresceu 43%. Se considerarmos os homicídios praticados pelas forças policiais e registrados/encobertos pelos “autos de resistência”,vemos que eles também vitimam mais intensamente os negros: de 2001 a 2007, incidiram sobre esse segmento 61,7% dos homicídios praticados por agentes do Estado.8 Não se trata simplesmente de abuso policial ou de despreparo de policiais em situações de confronto. A consistência dos dados e sua persistência no período, em que pese a redução desses homicídios nos últimos anos em algumas grandes cidades brasileiras, como Rio de Janeiro e São Paulo,9 indicam uma política de extermínio de negros (jovens, sobretudo) − o “fazer morrer” − praticada pelo Estado, por meio de seus agentes, ou por ele tolerada.10


Mas, como vimos, a tecnologia do poder também “faz viver”, ainda que em distintas condições para esses diferentes segmentos populacionais, brancos e negros. É o que demonstra uma pesquisa realizada em 2003 pelo Ministério da Saúde,11 que revelou indicadores de saúde diferenciados da população brasileira segundo o critério raça/cor. Analisando seus resultados, Meireles12 destaca que 62% das mulheres brancas ouvidas

realizaram sete ou mais consultas de pré-natal, enquanto somente 37% das mulheres negras passaram pelo mesmo número de consultas. Talvez por isso a hipertensão arterial durante a gravidez, uma das principais causas de morte materna, tenha sido mais frequente entre as mulheres negras. Além disso, o risco de uma criança negra morrer antes de completar 5 anos por causas infecciosas e parasitárias é 60% maior do que o risco de uma criança branca falecer pela mesma razão, enquanto o risco de morte por desnutrição é 90% maior entre crianças negras do que entre as brancas.


Já os dados do Relatório anual das desigualdades raciais no Brasil; 2009-2010demonstram que os negros representam cerca de 60% daqueles que, por motivos diversos, não conseguem atendimento no SUS, sendo os maiores percentuais os relativos às mulheres negras − o que, sem dúvida, argumenta o autor, evidencia a precariedade do dispositivo constitucional que assegura a universalidade do direito à saúde no país.


No plano da educação, todas as pesquisas apontam que, ainda que o acesso tenha crescido no país nos últimos anos, a presença dos negros no ensino médio, universitário e na pós-graduação permanece significativamente menor do que a dos brancos – diferença que se torna exponencial nos níveis superiores de formação. A razão, ressaltam, é clara: enquanto os brancos recorrem a escolas particulares (sabidamente, no Brasil, de melhor qualidade) no ensino fundamental e médio e, assim, obtêm melhor formação intelectual para ingresso nas universidades públicas, aos negros restam as escolas públicas (crescentemente sucateadas) nos níveis fundamental e médio e o caminho das universidades privadas. Mesmo com essa estratégia, também no campo da educação as desigualdades raciais são gritantes: em 2008, a probabilidade de um jovem branco, de 18 a 24 anos, frequentar uma instituição de ensino superior era 97,8% maior do que a de uma jovem negra da mesma faixa etária.13


No plano da moradia, os indicadores sociais revelam a mesma diferenciação no interior das políticas públicas, ou como o Estado “faz viver” esses contingentes populacionais. Os territórios de maioria negra nas cidades (favelas, loteamentos, bairros pobres e periferias)
são carentes de equipamentos urbanos e serviços públicos de boa qualidade. O déficit habitacional brasileiro (cerca de 5,5 milhões de unidades) é fruto da ausência de uma política estatal de habitação popular, o que resultou na precariedade que caracteriza as atuais condições de moradia e vida nessas localidades.

Além disso, em várias de nossas grandes cidades que vêm sendo reestruturadas para favorecer a especulação imobiliária e/ou sediar “grandes eventos” e assim se inserir nos fluxos internacionais de acumulação urbana, essas populações têm sido compulsoriamente removidas das localidades em que sempre viveram, criaram seus laços de vizinhança e parentesco, suas alternativas de sobrevivência (em trabalhos formais, pequenos comércios ou “virações”).15 São, então, reassentadas em locais distantes, ambientalmente precários,16 com infraestrutura urbana de má qualidade, sem redes de sociabilidade nem alternativas de trabalho; enfim, sem lugar na sociedade, sem direito à cidade.

Lenilda Campos.

fonte:www.diplomatique.org.br/

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