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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O príncipe medroso...

A África dos contos Desde sempre, os habitantes da África converteram a história em lenda e
as anedotas em contos. A tradição oral do continente fez com que os contos e as lendas passassem de geração a geração, através dos séculos, sem serem escritos. Os griots os contavam, pais e mães, avôs e avós acabavam decorando-os de tanto ouvi-los e continuavam a transmiti-los aos mais jovens. Só no final do século xix e início do xx é que se começou a recolher a mitologia e os contos da África sob a forma de livros. Mesmo hoje, contar contos nas praças dos povoados, nos pátios das casas ou embaixo de uma árvore numa escola rural ainda é uma atividade comum em muitos rincões do continente africano. E os contos continuam bem vivos e mutantes. A mesma história pode ter diversas versões, dependendo de onde é contada e de quem a conta! Esta coletânea propõe uma viagem através de alguns contos da África subsaariana, de oeste a leste, de leste a oeste, chegando também até o sul e passando por algumas ilhas, atravessando lagos, rios e cachoeiras gigantes, desertos e montanhas. E propõe uma aproximação com diferentes tipos de conto: dos mais desconhecidos, como os de princesas e príncipes, até os mais familiares, como as fábulas de animais. — Um conto para quem? — Um conto para todos! — gritaram os que estavam prontos para escutar a vovó contadora de histórias. — E quem o contou? — O camaleão! — gritou um menino. — É verdade. Não existe ninguém que saiba mais histórias que o camaleão. Agora lhes contarei os contos com que ele me presenteou há muito, muito tempo...

Houve, há muito tempo atrás, um Rei que se descobriu precisando do desconhecido. Desesperadamente precisava do que ninguém sabia onde e do que ninguém sabia quando. Seus súditos, solícitos, ofereceram-lhe todos os melhores caminhos conhecidos, mas o Rei queria mais, queria o que ainda estava por acontecer.

Chamou, assim, os mais valentes cavaleiros de todos os Reinos e condados para que o levassem em busca do que ninguém ainda havia enfrentado.

O que se dizia mais corajoso, sendo mesmo chamado Príncipe das Coragens, fez corajosamente espalho em seu cavalo dourado, arrancando aplausos da corte, e se incumbiu de levar o Rei ao que ninguém nomeara ainda. Mas se ninguém lá estivera, não haveria palmas ou aplausos, não haveria fama ou glória. E a coragem do Príncipe delas mesmas viu-se não existir, pois, esvaziado da admiração alheia, o Príncipe diminuído viu-se mesmo correr para as multidões tão conhecidas, deixando o Rei no seu conhecido castelo.

Foi assim que entrou no Reino com a promessa de levar o Rei ao seu destino desconhecido Cara Valente, andarilho de todo esse mundo, que já tinha enfrentado todos os monstros e todos os guerreiros possíveis e falados. Cara Valente, que de cara já espantava pela valentia, seguiu com o Rei rumo ao que ninguém sabia ser. Assim não sendo, não tendo ao certo o que enfrentar, não tendo o que assustar com sua cara tão obviamente valente, Cara Valente se assustou e pela primeira vez na vida, e faltou-lhe a propagada valentia. Foi embora com uma cara de quem foge buscar outros monstros que lhe devolvessem a ousadia, pois ela não existia por si só, só em quando defrontada com o medo dos outros.

E assim foi, cavaleiro por cavaleiro, coragens pereceram diante do que ninguém sabia sequer o quê. O Rei, já desacreditado, morria de infinitas saudades do que ele nunca tinha chegado a ver.

Apresentou-se, porém, numa noite sem estrelas, um cavaleiro diferente. Vinha a pé pela estrada, sem cavalo branco, sem pompa, meio curvado, sem nenhum anúncio ou nenhuma propaganda. Chamavam-no Príncipe Medroso.

– Se tens medo, por que vieste? – perguntou o rei cansado de esperar o que ninguém acreditava existir.

– Exatamente por ter medo empreenderei nessa busca pelo que ninguém nunca encontrou.

– Mas se nem toda valentia resistiu ao que ninguém conhece, como queres enfrentá-lo com seu medo?

– Por saber-me medroso, enfrento-me todo o tempo. Desde o levantar até a hora que me deito travo infinitas batalhas dentro de mim, já tendo lutado mais que todos os cavaleiros dessas terras, e contra mim mesmo.

– És, então, corajoso, pois venceste todas essas batalhas?

– Não, só tenho a coragem suficiente para olhar nos olhos do meu próprio medo e sabê-lo
menor que a minha vontade.

– Achas, pois, que podes ir de encontro ao desconhecido?

– Eu o confronto a todo momento, porque tudo me é desconhecido. Nada entendo, nada sei antes. De tudo tenho medo e tudo enfrento, porque nada conheço.

E assim partiram a pé, Rei e cavaleiro, buscando o caminho para o que nenhum dos dois sabia saber.


Um afro abraço.


fonte:www.companhiadasletras.com.br/

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