UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Castro Alves, mas conhecido como o “Poeta dos Escravos”

Castro Alves, o poeta dos escravos
Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871) é considerado o poeta dos escravos, pois viveu no Brasil durante a vigência do sistema escravista e denunciou, através da sua obra, como no poema em foco nesta aula, os horrores do tráfico de escravos e da escravidão.

Era filho de Antônio José Alves e Clélia Brasília Castro
 Era um belo rapaz, de porte esbelto, tez pálida, grandes olhos vivos, negra e basta cabeleira,. Sua mãe faleceu em 1859. No colégio, no lar por seu pai, iria encontrar uma atmosfera literária, produzida pelos oiteiros, ou saraus, festas de arte, música, poesia, declamação de versos. Aos 17 anos fez as primeiras poesias.

O pai se casou por segunda vez em 24 de janeiro de 1862 com a viúva Maria Rosário Guimarães. Temendo que seu filho fosse acometido pelo Mal do Século, Antônio José Alves embarca, no dia seguinte ao do seu casamento, o poeta e seu irmão Antônio José para o Recife.
Em maio de 1863, submeteu-se à prova de admissão para o ingresso na Faculdade de Direito do Recife mas foi reprovado. Mas seria no Recife tribuno e poeta sempre requisitado nas sessões públicas da Faculdade, nas sociedades estudantis, na plateia dos teatros, incitado desde logo pelos aplausos e ovações, que começava a receber e ia num crescendo de apoteose. Era um belo rapaz, de porte esbelto, tez pálida, grandes olhos vivos, negra e basta cabeleira, voz possante, dons e maneiras que impressionavam a multidão, impondo-se à admiração dos homens e arrebatando paixões às mulheres. Ocorrem então os primeiros romances, que nos fez sentir em seus versos, os mais belos poemas líricos do Brasil.

Também em 1863 a atriz portuguesa Eugénia Câmara se apresentou no Teatro Santa Isabel. Influência decisiva em sua vida exerceria a atriz, vinda ao Brasil com Furtado Coelho. No dia 17 de maio, Castro Alves publicou no primeiro número de A Primavera seu primeiro poema contra a escravidão: A canção do africano. A tuberculose se manifestou e em 1863 teve uma primeira hemoptise.
Em 1864 seu irmão José Antônio, que sofria de distúrbios mentais desde a morte de sua mãe, suicidou-se em Curralinho. Ele enfim consegue matricular-se na Faculdade de Direito do Recife e em outubro viaja para a Bahia. Só retornaria ao Recife em 18 de março de 1865,

acompanhado por Fagundes Varela. A 10 de agosto, recitou O Sábio na Faculdade de Direito e se ligou a uma moça desconhecida, Idalina. Alistou-se a 19 de agosto no Batalhão Acadêmico de Voluntários para a Guerra do Paraguai. Em 16 de dezembro, voltou com Fagundes Varela a Salvador. Seu pai morreu no ano seguinte, a 23 de janeiro de 1866. Castro Alves voltou ao Recife, matriculando-se no segundo ano da faculdade. Nessa ocasião, fundou com Rui Barbosa e outros amigos uma sociedade abolicionista.

Teve fase de intensa produção literária e a do seu apostolado por duas grandes causas: uma, social e moral, a da abolição da escravatura; outra, a república, aspiração política dos liberais mais exaltados. Data de 1866 o término de seu drama Gonzaga ou a Revolução de Minas, representado na Bahia e depois em São Paulo, no qual conseguiu consagrar as duas grandes causas de sua vocação. No dia 29 de maio, resolveu partir para Salvador, acompanhado de Eugênia. Na estreia de Gonzaga, dia 7 de setembro, no Teatro São João, foi coroado e conduzido em triunfo.
No Rio de Janeiro e São Paulo...

Em janeiro de 1868, embarcou com Eugênia Câmara para o Rio de Janeiro, sendo recebido por José de Alencar e visitado por Machado de Assis. A imprensa publica troca de cartas entre ambos, com grandes elogios ao poeta. Em março, viajou com Eugênia para São Paulo. Decidira ali - na Faculdade de Direito de São Paulo - continuar seus estudos, e se matriculou no terceiro ano.

Continuou principalmente a produção intensa dos seus poemas líricos e heroicos, publicados nos jornais ou recitados nas festas literárias, que produziam a maior e mais arrebatadora repercussão. Tinha 21 anos e uma nomeada incomparável na sua geração, que deu entretanto os mais formosos talentos e capacidades literárias e políticas do Brasil. Basta lembrar os nomes de Fagundes Varela, Ruy Barbosa, Joaquim Nabuco, Afonso Pena, Rodrigues Alves, Bias Fortes, Martim Cabral, Salvador de Mendonça, e tantos outros, que lhe assistiram aos triunfos e não lhe disputaram a primazia. É que ele, na linguagem divina que é a poesia, lhes dizia a magnificência de versos que até então ninguém dissera, numa voz que nunca se ouvira, como afirmou Constâncio Alves. Possuía uma voz dessas que fazem pensar no glorioso arauto de Agamenon, imortalizado por Homero, Taltibios, semelhante aos deuses pela voz…, como disse Rui Barbosa. Pregava o advento de uma "era nova", segundo
Euclides da Cunha.

A 7 de setembro de 1868, fez a apresentação pública de Tragédia no mar, que depois ganharia o nome de O Navio Negreiro. No dia 25 de outubro, foi reapresentada sua peça Gonzaga no Teatro São José, musicada pelo compositor mineiro, então residente em São Paulo, Emílio do Lago.

Desfaz-se em 28 de agosto de 1868 sua ligação com Eugênia Câmara. Castro Alves foi aprovado nos exames da Faculdade de Direito e a 11 de novembro - tragédia de grandes consequências - se feriu no pé, durante uma caçada. Tuberculoso, aventara uma estadia na cidade de Caetité, onde moravam seus tios e morrera o avô materno (o Major Silva Castro, herói da Independência da Bahia), dois grandes amigos (Otaviano Xavier Cotrim e Plínio de Lima), de clima salutar. Mas, antes, ainda em São Paulo, na tarde de 11 de novembro, resolveu realizar uma caçada na várzea do Brás e feriu o pé com um tiro. Disso resultou longa enfermidade, cirurgias, chegando ao Rio de Janeiro no começo de 1869, para salvar a vida, mas com o martírio de uma amputação. Os cirurgiões e professores da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Andrade Pertence e Mateus de Andrade, amputaram seu membro inferior esquerdo sem qualquer anestesia.

Em março de 1869, matriculou-se no quarto ano do curso jurídico, mas a 20 de maio, tendo piorado seu estado, decidiu viajar para o Rio de Janeiro, onde seu pé foi amputado em junho.
No dia 31 de outubro, assistiu a uma representação de Eugénia Câmara, no Teatro Fênix Dramática. Ali a viu por última vez, pois a 25 de novembro decidiu partir para Salvador. Mutilado, estava obrigado a procurar o consolo da família e os bons ares do sertão.


O retorno à Bahia
Em fevereiro de 1870 seguiu para Curralinho para melhorar a tuberculose que se agravara, viveu na fazenda Santa Isabel, em Itaberaba. Em setembro, voltou para Salvador. Ainda leria, em outubro, A cachoeira de Paulo Afonso para um grupo de amigos, e lançou Espumas flutuantes. Mas pouco durou.

Sua última aparição em púbico foi em 10 de fevereiro de 1871 numa récita beneficente. Morreu às três e meia da tarde, no solar da família no Sodré, Salvador, Bahia, em 6 de julhode 1871.
Seus escritos póstumos incluem apenas um volume de versos: A Cachoeira de Paulo Afonso (1876), Os Escravos (1883) e, mais tarde, Hinos do Equador (1921).
É patrono da cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras.
Em 1866, tornou-se amante de Eugénia Câmara.


Homenagem
O trabalho de resgate e preservação de suas obras foi fruto da dedicação do antigo colega e amigo Ruy Barbosa e fruto da campanha abolicionista, que tomou corpo a partir de 1881. Posteriormente, Afrânio Peixoto, ex-presidente da Academia, reuniu em dois volumes toda a produção do poeta, bem como escritos diversos (sob os títulos de "Relíquias" e "Correspondência").

Em 1947 o Instituto Nacional do Livro, do Ministério da Educação e Cultura, comemorou o centenário do nascimento do poeta com uma grande exposição, da qual resultou um livro comemorativo, trazendo importantes documentos que fizeram parte do evento.



O aspecto social da poesia de Castro Alves, em poemas como "O Navio Negreiro" e "Vozes d'África", ambos publicados no livro Os Escravos, foi um dos motivos principais para a sua popularização. Nesse sentido, autores como Mário de Andrade, no modernismo, dedicaram-lhe inúmeros ensaios.

O Navio Negreiro
Um dos mais conhecidos poemas da literatura brasileira, O Navio Negreiro – Tragédia no Mar foi concluído pelo poeta em São Paulo, em 1868. Quase vinte anos depois, portanto, da promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico de escravos, de 4 de setembro de 1850. A proibição, no entanto, não vingou de todo, o que levou Castro Alves a se empenhar na denúncia da miséria a que eram submetidos os africanos na cruel travessia oceânica. É preciso lembrar que, em média, menos da metade dos escravos embarcados nos navios negreiros completavam a viagem com vida.

Composto em seis partes, o poema alterna métricas variadas para obter o efeito rítmico mais adequado a cada situação retratada. Assim, inicia-se com versos decassílabos que

representam, de forma claramente condoreira, a imensidão do mar e seu reflexo na vastidão dos céus:
( um trecho)
...Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?...
Um afro abraço.

fonte:Wikipédia, a enciclopédia livre.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Mulheres Negras 25 de Julho Num Passo Alem da Proposta:Já faz muito tempo, temos trilhado outros caminhos...

Em julho de 1992, mulheres negras de 70 países participaram do 1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, em Santo Domingo, na República Dominicana. O último dia do evento, 25 de julho, foi marcado como o "Dia da Mulher Negra da América Latina e do Caribe", para celebrar e refletir sobre o papel das mulheres negras nestes continentes...

Introdução: Os muitos lugares das mulheres Negras na construção dos saberes:
As vicissitudes do Racismo brasileiro, que se utilizam dos paradigmas genéricos e universais das teorias e ideologia racistas, estruturadas nas últimas décadas do Século XIX, apresentam particularidades da formação social da sociedade colonial e imperial, que se conformam na República e trazem para a atualidade, um referencial para a população negra e para os indivíduos negros em particular, que perfaz o que se poderia dizer "a idéia de negro na sociedade brasileira". Aqui o racismo se transveste em diversas apreensões sócio-políticas-culturais de forma a amalgamar o fenômeno, fazendo surgir outros valores meritórios que irão inibir a auto estima daqueles indivíduos e desconstituir a capacidade de desenvolvimento de toda a comunidade negra, desagregando sua humanidade e via de conseqüência, sua condição de sujeito de direito. Democracia Racial, Racismo Cordial, Conflitos de Classe ou Discriminação Social são algumas das nomenclaturas utilizadas pela sociedade em geral e reforçada pelas instituições estatais que, negando o racismo estrutural e institucional em nossa sociedade, contribui para: a) não observar os parâmetros de igualdade (formal) e de igualdade de oportunidade (igualdade material) para a população negra, em qualquer dos momentos de planificação do Estado, em especial nas políticas públicas, que se encontra visível e significativamente em desvantagem social frente aos brancos e b) não considerar o racismo como interferente determinante da desvantagem social e, em conseqüência, da má qualidade de vida do grupo afetado o que permite operar com uma justificativa recalcitrante do próprio racismo, ao reverter a responsabilidade social da desigualdade no acesso e gozo dos benefícios sociais da população negra no país , para ela mesma, a população negra.

A LITERATURA NEGRA COMO RESSIGNIFICAÇÃO
 A Literatura Negra surge como afirmação de herança aos descendentes do povo africano, trazendo para si memórias, lembranças da oralidade, de toda uma cultura obrigada a abdicar do seu lugar, da sua identidade e da sua língua para sofrer uma reversão dos seus valores e da sua história diante da dominação do colonizador, e consequentemente, de uma sociedade carregada de preconceitos e autoafirmações.  O homem africano, ainda escravizado no terreiro, encontra em suas tradições deixadas na terra natal uma forma de reviver e ensinar aos seus descendentes a cultura de seu povo, seus ritos, palavras e costumes. Buscando assim, reconstruir – mesmo que de forma simplificada – sua identidade, repassando suas vivências e preservando-as. Conforme afirma Conceição Evaristo (s/d ,s/n )
Sendo assim a sociedade brasileira, dentro do mundo, constitui-se no maior destino da diáspora africana; assim, a formação histórica do país está profundamente associada à escravidão.

Homens e Mulheres, Negros e Negras

Se a mulher branca já é considerada objeto sexual,imagina a negra, porque a primeira, ainda é passível de casamento, enquanto a segunda é vista apenas como objeto de prazer.

O Brasil é signatário de todas as Convenções, Acordos e Tratados internacionais que objetivam erradicar o racismo e a discriminação à mulher, bem como qualquer tipo de discriminação. Os estudos de Direito
Internacional, neste sentido, têm recebido grande influência de organizações, mormente as não governamentais, cujo resultado básico tem sido a possibilidade de inserir, no corpo jurídico internacional,
medidas repressivas a comportamentos violadores dos Direitos Fundamentais e Humanos.


Mulher Negra:

Todos sabiam do que ela era chamada, mas ninguém em nenhum lugar sabia seu nome.O sujeito que buscamos aqui sempre esteve e nunca esteve.

Sempre foi e nunca foi. Sempre falada e silenciada... Sempre.Trata-se da mulher negra, sujeito singular construído a partir da validação política da raça, do sexo, do gênero e mais: da construção de diferenças e hierarquias entre humanos. E mais ainda em resistências.
    O Ano Internacional da Mulher, criado em 1975, foi, também, um divisor de águas para as mulheres negras. Formularam e divulgaram um extenso documento que evidenciava a opressão e a exploração que, ainda estavam sujeitas. A partir daí proliferaram movimentos feministas e, os movimentos das mulheres negras tinham como objetivo demonstrar a exclusão dos direitos da cidadania entre a população brasileira negra, além de afirmar que os negros são mais pobres, sobretudo porque são negros.


      A grande maioria de mulheres negras encontra-se abaixo da linha da pobreza e a taxa de analfabetismo é o dobro quando comparada a das mulheres brancas. Por essas razões possuem menor acesso aos Serviços de Saúde de boa qualidade, resultando que, as mulheres negras têm maior risco de contrair e morrer de determinadas doenças, do que as mulheres brancas.

Entendemos assim que os insultos, as preterições de oportunidade, a ação das crenças e crendices 
que mantêm a gente de cor amortecida, atingem mais diretamente a mulher negra  e todos os artifícios empregados para obstar a ascensão de quem vem de baixo, acrescenta-se a observação “mas ela é negra” e quando, apesar de tudo, ela consegue se instalar num posto da administração, ou num escritório de profissão liberal, a reação dos que convivem com ela é, quase sempre “ela é negra, mas é boa advogada” (HAHNER, 1978: 125/6). Conclui-se que a Abolição não libertou a mulher negra.
A muito tempo a sociedade brasileira se desenvolve permeada profundamente por visões e práticas racistas patriarcais. Nela nós mulheres negras, descendentes de diferentes povos africanos, herdeiras e criadoras de diferentes matrizes culturais, temos ocupado as piores posições, seja na perspectiva política e econômica, seja nos aspectos da afirmação simbólica e cultural da nacionalidade brasileira. Temos sido descritas como seres inferiores, hipersexualizadas, trabalhadoras braçais desqualificada se ignorantes, com reduzidas qualidades humanas e incapazes de transpor o profundo fosso das carências para habitar de forma protagônica a civilização brasileira.

Se Liga: Há uma falsa cordialidade que conduz a ver fatos como “quase” racismo ou violência. Toda discriminação é, por isso, amenizada, em virtude do caráter “cordial” . Por conseguinte, os negros e os mais pobres “devem” suportar qual de nosso povo quer segregação ou violência mais do que brancos e não pobres, sem se considerarem violados ou agredidos (SANTOS, 2004: 27).


A especificidade da saúde da mulher negra começou a ser discutida a partir de reivindicações das próprias mulheres negras organizadas nas diferentes regiões do país. A mortalidade da mulher negra, mostra que, esse segmento étnico apresenta um perfil de mortalidade semelhante ao do homem branco, contrariando a esperada diferença por sexo, segundo a qual as mulheres vivem mais que os homens. As pesquisas revelam que, ao se compararem os anos potenciais de vida perdidos por óbitos, de um modo geral, as mulheres negras perdem mais anos do que os homens brancos, novamente contrariando a tendência esperada quanto à diferença por sexo, pois, é mulher, mas, é negra.A cor não é vista, apenas, como diferença, fenotipicamente, mas como hierarquia de poder, pois, as fronteiras entre negros e brancos são sempre elaboradas e contraditórias.
      A população negra nunca foi, no Brasil, detentora dos meios de produção. Enquanto foi base do sistema escravocrata, esta população era entendida como mercadoria geradora de trabalho produtivo. No processo de transição do trabalho escravo para o trabalho livre, um amplo debate se estabeleceu na sociedade brasileira. Políticos, filósofos, educadores e outros buscavam entender qual era o lugar que deveria ocupar esta população. É importante salientar que, a transição ao trabalho livre deu-se em bases racistas; sem trabalho, as dificuldades dos negros para o acesso a bens e serviços como educação e saúde, ampliaram-se, formando um círculo vicioso.

A palavra Escravidão (...) não significa somente a relação do escravo para com o senhor; significa muito mais: a soma do poderio, influência, capital, e clientela dos senhores todos; (...) a dependência em que o comércio, a religião, a pobreza, a indústria, o Parlamento, a Coroa, o Estado enfim se acham perante o poder agregado da minoria aristocrática, em cujas senzalas centenas de milhares de entes humanos vivem embrutecidos e moralmente mutilados pelo próprio regime a que estão submetidos 
(NABUCO, J., 1977, p. 60, apud ALENCAR et alii, 1994: 201)

Um afro abraço.

fonte: unegro rj/mulher/CHARTIER, Roger. Introdução história cultural. Lisboa, Difel, 1990

sábado, 19 de julho de 2014

Refugiados: Emigração africana

Quem são os refugiados?
São tidos como refugiados aquelas pessoas que são forçadas a fugirem de seus países, individualmente ou parte de evasão em massa, devido a questões políticas, religiosas,

militares ou quaisquer outros problemas. A definição de refugiado pode variar de acordo o tempo e o lugar, mas a crescente preocupação internacional com a difícil situação dos refugiados levou a um consenso geral sobre o termo. Como definido na Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados das Nações Unidas - 1951 (A Convenção dos Refugiados), um refugiado é toda pessoa que:

“devido a fundados temores de ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, por pertencer a determinado grupo social e por suas opiniões políticas, se encontre fora do país de sua nacionalidade e não possa ou, por causa dos ditos temores, não queira recorrer a proteção de tal país; ou que, carecendo de nacionalidade e estando, em conseqüência de tais acontecimentos, fora do país onde tivera sua residência habitual, não possa ou, por causa dos ditos temores, não queira a ele regressar.”

Embora a definição encontrada na Convenção dos Refugiados tem sido utilizada pelas organizações internacionais, como as Nações Unidas, o termo continua a ser mal empregado e erroneamente utilizado na linguagem comum do dia-a-dia. Os meios de comunicação, por exemplo, freqüentemente confundem os refugiados com as pessoas que migram por razões econômicas (“imigrantes econômicos”) ou com grupos de perseguidos que se mantém dentro de seus próprios países e não cruzam nenhuma fronteira internacional (“deslocados internos”).

As causas da perseguição devem ser fundamentadas naquelas cinco áreas apontadas no Artigo 1 A(2) da Convenção dos Refugiados: raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um grupo social particular ou opinião política. A perseguição fundamentada em qualquer outro motivo não será considerada.

Raça: é utilizada no mais amplo sentido e inclui grupos étnicos e grupos sociais de descendência comum.

Religião: também possui um amplo sentido, inclui a identificação com um grupo que compartilha tradições e crenças comuns, assim como práticas religiosas específicas.

Nacionalidade: inclui a cidadania dos indivíduos. Perseguição contra grupos étnicos, lingüísticos e culturais segregados do resto da população também pode ser entendida como perseguição com base na nacionalidade.

Um Grupo Social específico se refere a um grupo de pessoas que compartilham uma mesma história, hábitos ou estatutos sociais. Essa categoria freqüentemente sofre alguma perseguição com base em uma ou outra das demais categorias aqui apontadas. Também pode ser aplicada às famílias capitalistas, aos proprietários de terra, aos homossexuais, aos negociantes e aos membros das forças militares.

Opinião política refere-se às idéias que não são toleradas pelas autoridades, incluindo opinião crítica com relação aos métodos e às políticas governamentais. Incluem-se as opiniões individuais (isto é, autoridades podem considerar que uma pessoa possui determinada opinião política particular), ainda que o indivíduo não defenda de fato nenhuma opinião. Indivíduos que não expressam suas opiniões políticas até conseguirem fugir de seus países podem ser considerados refugiados uma vez que demonstrem que serão perseguidos por suas idéias se retornarem à sua pátria.


Essas definições são importantes a partir do momento em que os países e as organizações tentam determinar quem é ou quem não é um refugiado. Quem solicita asilo - isto é, aqueles que requerem a condição de refugiados em outros países – normalmente necessitam provar pessoalmente que seu receio de perseguição está bem fundamentado e dentro dos parâmetros legais do país que o hospeda para concorrer ou não ao status de refugiado. No entanto, em caso de evasão em massa, não é possível que um país de asilo possa considerar cada caso individualmente. Nessas circunstâncias, especialmente quando os indivíduos estão fugindo por razões semelhantes, a determinação do status de refugiados pode ser declarada com base no “grupo social” que, na falta de evidência contrária, cada indivíduo passa a ser considerado como um refugiado.

A legislação internacional reconhece o direito ao asilo, mas não obriga os países a aceitá-lo. Nações de quando em vez oferecem “proteção temporária” quando expostos a um repentino e massivo fluxo de pessoas, superando sua capacidade regular de asilo. Em tais circunstâncias, as pessoas podem ser rapidamente admitidas em países seguros, mas sem nenhuma garantia de asilo permanente. A “proteção temporária” é conveniente para os governos e refugiados em determinadas circunstâncias. Ainda assim é apenas um complemento temporário e não substitui as medidas de proteção mais amplas oferecidas pela Convenção dos Refugiados.

Geralmente, os organismos de assistência e os mecanismos de proteção aos refugiados propõem três “soluções permanentes” a favor dos refugiados:

Apesar da União Europeia fecha as portas à emigração africana, uma nova vaga tenta a sua sorte na América Latina. Africanos podem levar mais de 30 difíceis dias a atravessar o Atlântico para chegar ao Brasil, Argentina ou México. Nos Brasil os números da imigração ilegal duplicaram, assim como os pedidos de estatuto de refugiado.
Nos séculos XVII e XVIII, milhares de emigrantes forçados africanos chegaram em navios negreiros para trabalhar como escravos nas extensas plantações de cana do Brasil. Agora, no início do século xxi, milhares de emigrantes ilegais africanos estão a chegar em navios cargueiros para pedir asilo ou vistos de turista prolongados. Os países latino-americanos estão a registar um aumento de imigrantes provenientes de África, o que em parte se deve ao apertar dos controlos de fronteiras da União Europeia. O número de refugiados e requerentes de asilo africanos na Argentina duplicou, passando de menos de 500 para cerca de 1000 nos últimos três anos, segundo o ACNUR, a agência das Nações Unidas para os refugiados. Estes imigrantes vêm na sua maior parte do Senegal, Nigéria, Costa do Marfim e da RD Congo, mas também da Somália, Eritreia e Etiópia.Alguns vêm de países onde, supostamente, não há conflitos. Mas ao verificar-se com mais atenção, dentro desses países há áreas que são muito instáveis e guerrilheiros a actuar», diz Carolina Podestá, oficial de informação pública do ACNUR para a América do Sul. Além do Brasil, Argentina e Chile, os emigrantes africanos também viajam para o México e Guatemala, que são vistos como trampolins para os Estados Unidos. «Alguns vieram legalmente, outros não. Estes emigrantes não têm de entrar nos países da América Latina de uma forma legal, uma vez que depois podem pedir o estatuto de refugiado declarando-se vítimas de perseguição política. Há o risco de serem vítimas dos traficantes. Pode ser muito assustador e alguns chegam desesperados», conta Carolina Podestá. Em muitos casos, trata-se simplesmente de sobrevivência. Estes emigrantes viajam ilegalmente em navios cargueiros e desconhecem o destino da viagem. Renato Leão, coordenador-geral do CONARE, o comité brasileiro para os refugiados, designa-os como «refugiados espontâneos». Até agora, a Argentina, Brasil e México mantêm as portas abertas aos emigrantes africanos imigração, sem temer a sua chegada. O contingente ainda é baixo se comparado com as dezenas de milhares de emigrantes que viajam para a Europa todos os anos, mas acredita-se que os africanos venham para a América Latina em números cada vez maiores. «Há uma procura por novos destinos», afirma Carolina Podestá, acrescentando que muitos foram pressionados pelas políticas de emigração e de segurança mais restritas da Europa. «Estamos perante uma tendência que se manterá por varias razões, entre elas, o endurecimento das medidas migratórias nos países tradicionais de asilo, e também por certa oportunidade migratória e de abertura nos países do Sul de América Latina que têm uma larga tradição de asilo», explica a responsável do ACNUR.

Imigração criminalizada:
Desde a criação da Frontex, a agência europeia de gestão da cooperação operacional nas fronteiras externas, o controlo e a vigilância foram intensificados e feitos conjuntamente. No início de 2010, com a entrada em vigor da Directiva do Retorno, uma norma aprovada no Parlamento Europeu, também as regras para o repatriamento de imigrantes passam a estar harmonizadas. O conjunto de procedimentos vem merecendo críticas por contrariar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, das Nações Unidas. A Diretiva do Retorno aumenta a repressão sobre os imigrantes cuja situação seja considerada irregular, permitindo a sua detenção por 18 meses sem julgamento.Há 3 mil refugiados no Brasil. São mulheres e, em grande parte, homens com idade entre 20 e 25 anos. Às vezes, famílias inteiras de desterrados. A maioria é de africanos e latino-americanos. O elo que os une: expulsos por terríveis guerras civis, perseguições políticas, ideológicas e religiosas, violências étnicas e tribais e outras violações graves de direitos humanos, fugiram de seus países de origem e realizaram verdadeiras façanhas para chegar ao Brasil.

Aqui, pediram refúgio ao governo e tentam reconstruir suas vidas, em meio a lembranças de dor e sofrimento. Com o mesmo perfil, existem pelo menos outros 6 mil refugiados que vivem no Brasil mas que ainda não conseguiram o direito de viver em território nacional. Sozinhos em um país estranho e vivendo de forma ilegal, permanecem com medo da deportação. Voltar para casa, para eles, seria o mesmo que morrer.

Segundo o representante no Brasil do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), Luis Varese, cerca de 35% das pessoas que entram com processo para pedir o reconhecimento como refugiado têm essa condição validada.

Barreiras na fuga, e no Brasil:
A primeira barreira que o refugiado enfrenta é a viagem de fuga. É preciso ultrapassar a fronteira de sua terra natal para pedir proteção ao governo do Brasil - país signatário do tratado da Convenção de Genebra, de 1951, e que desde 1997 tem uma lei nacional específica na qual se compromete a receber, proteger e ajudar a integrar refugiados. Para chegar ao País, muitos viajam como clandestinos em cargueiros e enfrentam dias de fome e tensão. São Paulo e no Rio de Janeiro. Com os papéis em mãos, a urgência passa a ser conseguir emprego e moradia. Surge então uma nova barreira: a do preconceito. “O refugiado é quase sempre visto como bandido ou traficante, o que dificulta sua entrada no mercado de trabalho”,
  

Se liga:    A boa formação do refugiado acabar às vezes sendo um ponto negativo para a integração. Dificilmente ele consegue exercer no Brasil a profissão que desempenhava antes. O crescente número de refugiados vindos da América Latina - principalmente Colômbia, Peru e Cuba - nos últimos anos reforça esse grupo. São pessoas com formação universitária e politizadas.

NAÇÕES UNIDAS:Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) (artigo 14)
Foi o primeiro documento internacional que reconheceu o direito de procurar e obter asilo por perseguição.

Convenção de Genebra Relativa à Proteção de Pessoas Civis em Tempos de Guerra(1949) (artigos 44, 70)
Esse tratado protege os refugiados durante a guerra. Os refugiados não podem ser tratados como “inimigos estrangeiros”.

Protocolo Adicional às Convenções de Genebra de 12 de agosto de 1949 relativa à Proteção das Vitimas de Conflitos Armados Internacionais (Protocolo 1) (1977) (artigo 73)
"As pessoas que, antes do início das hostilidades, foram consideradas como apátridas ou refugiados...serão pessoas protegidas..., em todas as circunstância e sem nenhuma distinção de índole desfavorável."

Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (1951)
Este foi o primeiro acordo internacional a cobrir os mais importantes aspectos da vida de um refugiado. Nele foi explicitado um conjunto de direitos humanos que ao menos deveriam ser equivalentes às liberdades que gozam os imigrantes que vivem legalmente em um determinado país e, em muitas ocasiões, igual às dos nacionais daquela nação. Também reconheceu a dimensão internacional da questão dos refugiados e a necessidade da cooperação internacional – incluindo as obrigações bilaterais entre os Estados – para se enfrentar o problema. Até 1° de outubro de 2002, 141 países já haviam ratificado a Convenção dos Refugiados.

Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (1966) (artigos 2, 12, 13)
Este principal tratado sobre os direitos civis e políticos estipula que os Estados devem assegurar os direitos civis e políticos dos indivíduos dentro de seus territórios e sujeitos à sua jurisdição (artigo 2). Este Pacto também garante a livre circulação e proíbe a expulsão forçada.

Protocolo Relativo ao Estatuto dos Refugiados (1967)
Retira as limitações geográficas e de temporais escritas no texto original da Convenção dos Refugiados o que possibilitou principalmente a muitos europeus envolvidos em conflitos ocorridos antes de 1° de janeiro de 1951 a solicitação da condição de refugiados.

Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes (1984) (artigo 3)
O artigo 3 (2) estabelece que um padrão consistente de graves e massivas violações dos direitos humanos deve ser considerado quando um Estado decide pela expulsão. O corpo de monitoramento desta Convenção, o Comitê Contra a Tortura, determina alguns princípios fundamentais sobre a expulsão dos solicitantes de asilo e que foram rejeitados. Também oferece importante proteção aos refugiados no sentido de terem o direito de não serem devolvidos aos países nos quais temem a perseguição.

Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) (artigo 22)
O artigo 22 desta Convenção estipula que "Os Estados-partes devem tomar medidas apropriadas para assegurar a criança que solicita o estatuto de refugiado ou que é considerada como refugiada...deve...receber a devida proteção e assistência humanitária no gozo de seus...direitos...Os Estados-partes devem garantir ...a cooperação e...esforços para proteger e assistir tal criança e localizar os pais ou outros membros da família de toda criança refugiada...para que ele ou ela se reúna novamente com sua família. Nos casos em que os pais ou outros membros da família não podem ser encontrados, a criança deve receber a mesma proteção outorgada a qualquer outra criança...privada de seu ambiente familiar...”

Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres (1993)
Reconhece a particular vulnerabilidade das mulheres refugiadas.

Manual de Procedimentos e Critérios para Determinar o Estatuto de Refugiado de acordo com a Convenção de 1951 e o Protocolo Relativo ao Estatuto dos Refugiados de 1967
Este manual é amplamente aceito tanto por profissionais quanto por muitos governos como uma interpretação fidedigna da Convenção dos Refugiados.



Princípios Norteadores sobre o Refúgio Interno
Conjunto de 30 recomendações para a proteção dos deslocados internos. Os Princípios Norteadores definem quem são os deslocados internos, destacam o amplo quadro já existente de leis internacionais para a proteção dos direitos básicos das pessoas e apresentam as responsabilidades dos Estados. Deixam claro que os deslocados internos têm o direito de deixar o país, procurar asilo e de obter proteção contra a repatriação forçada aos seus países de origem.

Um afro abraço.
fonte:www.hrea.org/perfilando.weebly.com

terça-feira, 15 de julho de 2014

Um conto afro brasileiro:O Negrinho do Pastoreio

Fábula - é uma narrativa curta que traz uma reflexão sobre os valores humanos, onde os animais são os personagens principais e os seres humanos podem não estar presentes na história. Na fábula os animais falam, pensam e agem como seres humanos. O objetivo da fábula é transmitir um ensinamento, criticar uma determinada maneira de agir e de se comportar com o outro. Por isso, a fábula sempre termina com uma lição de moral.
A lenda é ser oral. Não se conhece o autor dessas narrativas. É cultura popular. Isso explica o porquê de existir várias versões para uma mesma história contada em lugares diferentes. No Brasil, de norte a sul, há muitas lendas, cada qual com sua tônica regional. São lendas de origem africana, indígena e portuguesa. Assim, os costumes, valores e cultura de um povo, podem ser estudados através da análise de suas lendas. Com base nessas leituras, podemos conhecer diferentes visões de mundo que mantém viva a tradição dos povos.


Lenda
 É uma narrativa baseada na tradição oral e de caráter maravilhoso, cujo argumento é tirado da tradição de um dado lugar. Sendo assim, relata os acontecimentos numa mistura entre referenciais históricos e imaginários. A lenda tem caráter anônimo e, geralmente, está marcado por um profundo sentimento de fatalidade. Tal sentimento é importante, porque fixa a presença do DESTINO, aquilo contra o que não se pode lutar e demostra o pensamento humano dominado pela força do desconhecido. O folclore brasileiro é rico em lendas regionais. Destacam-se entre as lendas brasileiras por exemplo:

O Negrinho do Pastoreio
É uma lenda meio africana meio cristã. Muito contada no final do século passado pelos brasileiros que defendiam o fim da escravidão. É muito popular no sul do Brasil.

O Negrinho do Pastoreio é uma lenda meio africana meio cristã. Muito contada no final do

século passado pelos brasileiros que defendiam o fim da escravidão. É muito popular no sul do Brasil.
Naquele tempo os campos ainda eram abertos, não havia entre eles nem divisas nem cercas; somente nas volteadas se apanhava a gadaria chucra, e os veados e os avestruzes corriam sem empecilho..

Nos tempos da escravidão, havia um estancieiro malvado com negros e peões. Num dia de inverno, fazia um frio de rachar e o fazendeiro mandou que um menino negro de quatorze anos fosse pastorear cavalos e potros que acabara de comprar. No final da tarde, quando o menino voltou, o estancieiro disse que faltava um cavalo baio. Pegou o chicote e deu uma surra tão grande no menino que ele ficou sangrando.

"Você vai me dar conta do baio, ou verá o que acontece", disse o malvado patrão. Aflito, ele foi à procura do animal. Em pouco tempo, achou ele pastando. Laçou-o, mas a corda se partiu e o cavalo fugiu de novo.

Na volta à estância, o patrão, ainda mais irritado, espancou o garoto e o amarrou, totalmente despido, sobre um formigueiro. No dia seguinte, quando ele foi ver o estado de sua vítima, tomou um susto. O menino estava lá, mas de pé, com a pele lisa, sem nenhuma marca das chicotadas.

Ao lado dele, a Virgem Nossa Senhora, e mais adiante o baio e os outros cavalos. O

estancieiro se jogou no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada respondeu. Apenas beijou a mão da Santa, montou no baio e partiu conduzindo a tropilha.

E depois disso, entre os andantes e posteiros, tropeiros, mascates e carreteiros da região, todos davam a notícia de ter visto passar, como levada em pastoreio, uma tropilha de tordilhos, tocada por um Negrinho, montado em um cavalo baio.
Então, muitos acenderam velas e rezaram um Padre-Nosso pela alma do judiado. Daí por diante, quando qualquer cristão perdia uma coisa, o que fosse, pela noite o Negrinho campeava e achava. Mas ele só entregava a quem acendesse uma vela, cuja luz ele levava para pagar a do altar de sua madrinha, a Virgem Nossa Senhora, que o livrou do cativeiro e deu-lhe uma tropilha, que ele conduz e pastoreia, sem ninguém ver. 

Desde então, e ainda hoje, conduzindo o seu pastoreio, o Negrinho, sarado e risonho, cruza os campos. Ele anda sempre a procura dos objetos perdidos, pondo-os de jeito a serem achados pelos seus donos, quando estes acendem um coto de vela, cuja luz ele leva para o altar da santa que é sua madrinha.

A lenda:
Quem perder coisas no campo, deve acender uma vela junto de algum mourão ou sob os ramos das árvores, para o Negrinho do pastoreio, e vá lhe dizendo:
Foi por aí que eu perdi... 
Foi por aí que eu perdi... 
Foi por aí que eu perdi...". Se ele não achar, ninguém mais acha.
Um afro abraço.

Origem: Fim do Século XIX, Rio Grande do Sul

sábado, 12 de julho de 2014

Mídia Racismo e Branquitude : Representações...


Enquanto uma classe normalmente só pede informação à televisão,porque vai buscar em
outra parte o entretenimento e a cultura, no esporte, no livro e no concerto, outras classes pedem tudo isso só à

Televisão:
As instituições como a família, escola e religião, enfim, a sociedade, encarregam-se de transmitir os valores que já estão formulados e perpetuados, de geração a geração. A propagação dos estereótipos negativos em relação ao negro está presente na História, arraigados na cultura brasileira e se disseminam de várias formas.

As crenças embasadas e defendidas pelas teorias racistas perpetuam as relações humanas, até hoje. É importante ressaltar que, cientificamente, a biologia desconhece a hierarquização das chamadas a raça humanas”, não obstante, sociologicamente, no imaginário coletivo da sociedade, a hierarquia racial permanece.

A Comunicação aproxima os povos e promove mudanças. É, sem dúvida, a área do conhecimento que movimenta a História da humanidade com o poder de integrar o tempo e o espaço. Mais do que emitir e receber mensagens, o ato de comunicar-se concretiza me dações e, portanto, instiga a formulação do pensamento crítico negavelmente, o exercício dessa consciência crítica nos faz constatar a persistência do racismo na sociedade, historicamente respaldado por sistemas políticos, educacionais, religiosos, culturais. Porém,a história também registra ações de resistência dos indivíduos e demonstra, que o estabelecimento de redes de solidariedade é um dos caminhos que levam à eliminação do racismo e favorecem o respeito à diversidade.

Os estudos comprovam que a telenovela, muito mais que entretenimento, é um espaço de informação que propicia reflexões sobre temas polêmicos da sociedade, como homossexualidade, racismo, drogas e violência, entre outros. A telenovela brasileira, por exemplo, tem características específicas, o que a diferencia do modelo tradicional no qual muitos autores limitam-se à fantasia e ao melodrama. Os dramaturgos brasileiros vão além e, por intermédio da telenovela, têm trazido à tona discussões sobre muitos conflitos sociais presentes no cotidiano,os quais fazem parte da realidade brasileira. A discussão sobre as relações raciais tem conquistado espaço nos meios de comunicação, na televisão, na

publicidade, enfim, na mídia,e, ainda que de maneira restrita, os negros vêm conquistando seu espaço. Nas telenovelas, por exemplo, embora timidamente, o negro tem marcado sua presença, e situações típicas de relações inter-raciais, como miscigenação, racismo, discriminação, preconceito, branqueamento e branquitude, têm sido representadas e, algumas vezes, discutidas.

Esteréotipos:
É comum na telenovela o negro aparecer de forma estereotipada. “Isto é, colhem-se aspectos do real já recortados e confeccionados pela cultura”. O processo de estereotipia apodera-se da vida mental dos indivíduos. São os estereótipos, arraigados na cultura brasileira,construídos ainda na época da escravidão, baseados em teorias racistas,que perpetuam até os dias atuais, que estão presentes no imaginário da
sociedade, e podem ser identificados também na ficção.

As situações polêmicas envolvendo negros e brancos, algumas vezes,saem da telenovela para continuar no mundo real.Temas como miscigenação, racismo, preconceito, branqueamento e branquitude, mesmo que
não intencionalmente, têm sido retratados por alguns autores. Pode-se destacar, neste caso, uma das mais polêmicas telenovelas a abordar, até hoje, a questão do racismo abertamente: Pátria Minha, de Gilberto Bragaque foi ao ar em 1994, pela Rede Globo. A atitude do personagem vivido por Tarcísio Meira (branco), um homem autoritário e preconceituoso, rendeu na vida real problemas para a emissora e para o
autor da obra teledramatúrgica, pois as cenas vividas por Raul Pelegrini (Tarcísio Meira) e seu jardineiro, o rapaz negro Kennedy (AlexandreMoreno), chocaram o País. O personagem de Tarcísio Meira afirma em
seu discurso que existe uma hierarquia entre o cérebro do negro e do branco, ou seja, o negro seria inferior ao branco. Tal comportamento é característico do racista, pois a personagem apodera-se de diferenças
biológicas e físicas para forjar uma suposta hierarquia racial.

Diante dos fatos pode-se constatar que há uma propagação da ausência de uma memória positiva em relação ao negro, perpetuando se, cada vez mais, uma memória (coletiva) repleta de dados incorretos
Tal afirmação reforça-se nas palavras de LeGoff quando aborda a relação entre memória e poder.
A memória coletiva foi posta em jogo de forma importante na luta das forças sociais pelo poder. Tornar-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, do sindivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas.Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva.

Se liga:
Historicamente, foi introjetada no negro a idéia de inferioridade e, em contrapartida, o branco “europeu”” foi colocado como modelo universal da raça humana. Esta concepção, durante muito tempo, foi difundida e reforçada em estudos ditos científicos.

(...) o lugar do negro é o seu grupo como um todo e do branco é o de sua individualidade.
Um negro representa todos os negros. Um branco é uma unidade representativa apenas de si mesmo. Não se trata,
portanto, da invisibilidade da cor, mas da intensa visibilidade da cor e de outros traços fenotípicos aliados a estereótipos sociais e morais, para uns, e a neutralidade racial, para outros.

É comum o negro não ser considerado um indivíduo, e sim a representação coletiva de um grupo marcado por uma estereotipia negativa. É isso que se vivencia no mundo real e é representado na ficção. De forma consciente, ou não, a reprodução dos estereótipos e, conseqüentemente, o racismo e a branquitude estão presentes na televisão.

Emissoras condenadas:
A Rede TV Record de Televisão e a Rede Mulher foram condenadas a exibir, por sete dias consecutivos, um programa de TV, com uma hora de duração, produzido pelo CEERT e pela INTECAB, em que se exerceu o direito democrático de resposta e de esclarecimento contra as acusações infundadas.A decisão judicial foitomada pela juíza Marisa Cláudia Gonçalves Cucio, da 5ª Vara FederalCível de São Paulo, em 12 de maio de 2005.

Os círculos concêntricos da violência...


O estudo da escrita dramatúrgica do filme Cidade de Deus, dirigido por Fernando Meirelles, em 2002, objetiva uma leitura crítica com a finalidade de se observar as implicações e estrutura do roteiro.O filme Cidade de Deus de grande repercussão junto ao público e crítica brasileiros e internacional suscita amplo campo de discussão do papel das representações e estereótipos do negro na sociedade atual segundo o teórico britânico Raymond Williams, “o que o sociólogo ou o historiador cultural estudam são as práticas sociais e as relações culturais que produzem não só ‘uma cultura’ ou ‘uma ideologia’ mas, coisa muito mais significativa, aqueles modos de ser e aquelas obras dinâmicas e concretas em cujo interior não há apenas continuidades e determinações constantes, mas também tensões, conflitos, resoluções e soluções, inovações e mudanças reais”Tendo em vista o pressuposto teórico de uma sociologia da cultura que evidencie as relações sociais nas obras de arte, faz-se necessário analisarmos de que forma Cidade de Deus incorpora material social preexistente modificando-o de acordo com o conceito de “mediações”, introduzido por Williams.
.
Nossa:Vida é ainda muito difícil...
Mais de trinta anos de História e mobilizações sociais se passaram perceba-se, no entanto, que no mundo da mídia (novelas, filmes, séries e publicidade em geral) há apenas algumas poucas figuras que representam, em físico e em comportamento, o homem negro e a mulher negra. Não é um fenômeno exclusivo do Brasil, o negro principalmente na publicidade, é

retratado em imagem sempre das mesmas formas: socialmente carente, trabalhador braçal, malandro ou atleta. Também é engraçado perceber que o cabelo do negro na mídia possui apenas três variações: black power, ou com trancinhas ou curto quase raspado. Fora desses padrões o negro homem sempre é mostrado de cabeça raspada. Alguns podem argumentar que essas são as únicas opções possíveis, mas dizer isso só revelaria ignorância quanto ao visual do negro no cotidiano. Que visual é esse? Não existe um padrão, simples assim.

.que a Rede Record resolveu reinvestir na produção de Escrava Isaura – antigo sucesso da Rede Globo baseado no livro homônimo de Bernardo Guimarães que, com o perdão dos herdeiros, não acrescentou nada à Literatura nacional. Pretendia ser um libelo contra a escravidão, mas, ao final, evidencia todo um ranço racista – próprio do século XIX, aliás – ao deixar claro que a heroína merecia a liberdade por ser uma escrava especial – prendada, bonita e... branca – e não pela injustiça do sistema escravista em si.


Finalizando: Mídia, Educação e Movimentos Negros...
A existência de uma Imprensa Negra em São Paulo, no início do século XX, é um dos exemplos da indignação que toma conta dos participantes dos cursos de formação, iniciados a partir da lei 10.639/03 . Muitos(as) professores(as) de História perguntam-me: “por quê nunca me ensinaram isso?
A posse da informação demanda a busca do conhecimento. Como negar as dificuldades dos brasileiros em tratar e enfrentar situações de preconceito e de racismo? Como reverter os indicadores de exclusão registrados nas pesquisas oficiais do governo, que demonstram a desigualdade econômica e de acesso a direitos dos afro-brasileiros? Qual deve ser o papel da educação e dos meios de comunicação para a construção da igualdade de direitos entre brancos e negros, homens e mulheres?

Nos da UNEGRO no Brasil centralizaram suas reivindicações no campo da Educação; nos espaços culturais‘territórios’ de comunidades tradicionais negros (quilombos), e a comunidades tradicionais das religiões (terreiros de candomblé);esporte e etc...Temos apostado na difusão dos fatos históricos. A atual reivindicação de cotas raciais nas universidades públicas ganha espaço nas páginas dos jornais, revistas de opinião, programas de rádio e televisão. Tamanha visibilidade não significa a tomada de consciência da sociedade da existência de uma intervenção constante, capaz de transformar a historia.

A prática do conceito advocacia demanda o estabelecimento de redes e foruns capazes de ampliar as questões de interesse do grupo. Assim, a grande mídia tem poder para difundir estereótipos contra os negros,os telespectadores, organizados, podem, conscientes da legislação e de seus direitos, protestar e modificar tal situação. Atuar sobre um poder, por vezes mais simbólico do que real, sobre crenças de supremacia branca, sobre valores “neutros” e “transparentes” é um esforço igual ou talvez maior do que o que se despende para apagar das mentes de pessoas discriminadas as marcas do preconceito, do medo, da insegurança e da desigualdade... Porém, no que diz respeito aos meios de comunicação, devemos nos conscientizar da nossa capacidade de intervir enquanto mediadores, refutando e recusando preconceitos e estereótipos.cabe ressaltar que o cenário atual no qual o negro

possui “visibilidade” é um espaço que só faz perpetuar preconceitos e estigmas. É difícil fazer um prognóstico dessa situação, mas ao que tudo indica ela não tende a melhorar tão cedo. A cada ano que passa novas camadas de racismo mascarado envolvem essa redoma de desrespeito ao negro como humano.

Um afro abraço.

fonte:ARAÚJO, Joel Zito. A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira. SP:Senac. 2000.BACCEGA, M.A. & Couceiro, S.M. Manipulação e construção da identidade da África negra na imprensa brasileira. São Paulo: ECA-USP, 1992. (mimeogr.).BASTIDE, Roger. “Estereótipos de negros através da literatura brasileira”.In: Boletim de Sociologia. São Paulo: FFLCH-USP, 1953. p. 7.http://midiaetnia.com.br/wp-content/uploads/2011/10/revista_sime.pdf




quinta-feira, 10 de julho de 2014

Contos Africanos: Ananse um caso interessante, no qual no mundo antigo não havia histórias e por isso viver aqui era muito triste....

Ananse, ou Anansi, é uma lenda africana.

Houve um tempo em que na Terra não havia histórias para se contar, pois todas pertenciam a Nyame, o Deus do Céu. Kwaku Ananse, o Homem Aranha, queria comprar as histórias de Nyame, o Deus do Céu, para contar ao povo de sua aldeia, então por isso um dia, ele teceu uma imensa teia de prata que ia do céu até o chão e por ela subiu.

Quando Nyame ouviu Ananse dizer que queria comprar as suas histórias, ele riu muito e falou: - O preço de minhas histórias, Ananse, é que você me traga Osebo, o leopardo de dentes terríveis; Mmboro os marimbondos que picam como fogo e Moatia a fada que nenhum homem viu.

Ele pensava que com isso, faria Ananse desistir da idéia, mas ele apenas respondeu: - Pagarei seu preço com prazer, ainda lhe trago Ianysiá, minha velha mãe, sexta filha de minha avó.

Novamente o Deus do Céu riu muito e falou: - Ora Ananse, como pode um velho fraco como você, tão pequeno, tão pequeno, pagar o meu preço?

Mas Ananse nada respondeu, apenas desceu por sua teia de prata que ia do Céu até o chão para pegar as coisas que Deus exigia. Ele correu por toda a selva até que encontrou Osebo, leopardo de dentes terríveis. - Aha, Ananse! Você chegou na hora certa para ser o meu almoço. - O que tiver de ser será - disse Ananse - Mas primeiro vamos brincar do jogo de amarrar? O leopardo que adorava jogos, logo se interessou: - Como se joga este jogo? - Com cipós, eu amarro você pelo pé com o cipó, depois desamarro, aí, é a sua vez de me amarrar. Ganha quem amarrar e desamarrar mais depressa. - disse Ananse. - Muito bem, rosnou o leopardo que planejava devorar o Homem Aranha assim que o amarrasse.

Ananse, então, amarrou Osebo pelo pé, pelo pé e pelo pé, e quando ele estava bem preso, pendurou-o amarrado a uma árvore dizendo: - Agora Osebo, você está pronto para encontrar Nyame o Deus do Céu.

Aí, Ananse cortou uma folha de bananeira, encheu uma cabaça com água e atravessou o mato alto até a casa de Mmboro. Lá chegando, colocou a folha de bananeira sobre sua cabeça, derramou um pouco de água sobre si, e o resto sobre a casa de Mmboro dizendo: - 

Está chovendo, chovendo, chovendo, vocês não gostariam de entrar na minha cabaça para que a chuva não estrague suas asas? - Muito obrigado, Muito obrigado!, zumbiram os marimbondos entrando para dentro da cabaça que Ananse tampou rapidamente.
O Homem Aranha, então, pendurou a cabaça na árvore junto a Osebo dizendo: - Agora Mmboro, você está pronto para encontrar Nyame, o Deus do Céu.
Depois, ele esculpiu uma boneca de madeira, cobriu-a de cola da cabeça aos pés, e colocou-a aos pés de um flamboyant onde as fadas costumam dançar. À sua frente, colocou uma tigela de inhame assado, amarrou a ponta de um cipó em sua cabeça, e foi se esconder atrás de um arbusto próximo, segurando a outra ponta do cipó e esperou. Minutos depois chegou Moatia, a fada que nenhum homem viu. Ela veio dançando, dançando, dançando, como só as fadas africanas sabem dançar, até aos pés do flamboyant. Lá, ela avistou a boneca e a tigela de inhame. - Bebê de borracha. Estou com tanta fome, poderia dar-me um pouco de seu inhame?

Ananse puxou a sua ponta do cipó para que parecesse que a boneca dizia sim com a cabeça, a fada, então, comeu tudo, depois agradeceu: - Muito obrigada bebê de borracha.

Mas a boneca nada respondeu, a fada, então, ameaçou: - Bebê de borracha, se você não me responde, eu vou te bater.
E como a boneca continuasse parada, deu-lhe um tapa ficando com sua mão presa na sua bochecha cheia de cola. Mais irritada ainda, a fada ameaçou de novo: - Bebê de borracha, se você não me responde, eu vou lhe dar outro tapa."

E como a boneca continuasse parada, deu-lhe um tapa ficando agora, com as duas mãos presas. Mais irritada ainda, a fada tentou livrar-se com os pés, mas eles também ficaram presos. Ananse então, saiu de trás do arbusto, carregou a fada até a árvore onde estavam Osebo e Mmboro dizendo: - Agora Mmoatia, você está pronta para encontrar Nyame o Deus do Céu.

Aí, ele foi a casa de Ianysiá sua velha mãe, sexta filha de sua avó e disse: - Ianysiá venha comigo vou dá-la a Nyame em troca de suas histórias.
Depois, ele teceu uma imensa teia de prata em volta do leopardo, dos marimbondos e da fada, e uma outra que ia do chão até o Céu e por ela subiu carregando seus tesouros até os pés do trono de Nyame. - Ave Nyame! - disse ele -Aqui está o preço que você pede por suas histórias: Osebo, o leopardo de dentes terríveis, Mmboro, os marimbondos que picam como fogo e Moatia a fada que nenhum homem viu. Ainda lhe trouxe Ianysiá minha velha mãe, sexta filha de minha avó.

Nyame ficou maravilhado, e chamou todos de sua corte dizendo: - O pequeno Ananse, trouxe

o preço que peço por minhas histórias, de hoje em diante, e para sempre, elas pertencem a Ananse e serão chamadas de histórias do Homem Aranha! Cantem em seu louvor!

Ananse, maravilhado, desceu por sua teia de prata levando consigo o baú das histórias até o povo de sua aldeia, e quando ele abriu o baú, as histórias se espalharam pelos quatro cantos do mundo vindo chegar até aqui.


Um afro abraço.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ananse

domingo, 6 de julho de 2014

2015 – MARCHA DAS 100 MIL MULHERES NEGRAS EM BRASÍLIA

Uma vez nós, mulheres negras, iremos à rua. Mais uma vez mostraremos nossa cara para reafirmarmos a nossa humanidade, sistematicamente subtraída por força do racismo. É de nossa natureza sairmos em defesa dos nossos direitos, da nossa família e da nossa comunidade. Estamos trabalhando para nossa inclusão
numa sociedade em que ainda vivemos a margem.

A Marcha tem varias pautas:
Em homenagem aos nossos ancestrais e em defesa da cidadania plena das mulheres negras;

Contra o racismo, o machismo, a pobreza, com a desigualdade social e econômica, que tem prejudicado nossa vida, rebaixando a nossa auto estima coletiva e nossa própria sobrevivência e de nossos filhos...

Pelo fortalecimento da identidade negra que tem sido prejudicada ao longo dos séculos numa construção negativa da imagem da pessoa negra, e em especialmente a da mulher negra, desde a estética (cabelo, corpo, etc.) até ao papel social desenvolvido pelas mulheres negras;

Pela implantação pela convenção 100 e 111 da OIT; visto que as mulheres continuam recebendo os menores salários e ainda são as que mais têm dificuldade para entrar no mundo do trabalho e neste sentido nos mulheres negras estamos na base da pirâmide;

Pela inclusão das mulheres negras nos espaços de poder, de gerência e de decisão, quer seja no mercado de trabalho, quer seja no campo da representação política e social;

Pelos direitos humanos (direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais) plenamente respeitados.

A Nossa luta e em defesa do conjunto das principais frentes de vivência da nossa condição de negras e negros em nossa sociedade, sendo assim nos estamos na construção da Marcha das 100 mil mulheres negras,de todo a pais , para exigir do governo brasileiro, bem como de todos os setores da nossa sociedade, o compromisso efetivo com o nosso empoderamento e promoção da equidade racial e de gênero, a fim de que possamos exercer plenamente os nossos direitos como cidadãs brasileiras e construtoras históricas do Brasil.

Quando será: 28/09/2015 - Dia da Mãe Preta ( data sujeito a mudança).
Local: Brasília.

As mulheres Negras do Estado do Rio de Janeiro:
Ontem dia 5 de Julho de 2015 nos mulheres negras do Rio de Janeiro, fizemos nossa primeira reunião de formação da coordenação estadual , na ocupação Manoel Congo na Cinelândia que se iniciou as 13:00h com presença de 34 mulheres negras do Estado do Rio de preparo para a marcha; foi acordado que faremos reuniões mensais a próxima dia 2 de Agosto será em Niterói e em Setembro em Resende. As Mulheres da  UNEGRO/RJ está com representantes da Capital,Niterói,Duque de Caxias e Resende e militância negra dos 34 municípios estarão mobilizadas para a marcha com nossas irmã organizadas em suas entidades ou não todas são bem vindas.

Saudações unegrin@s.
UNEGRO/RJ

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Preconceito contra negros no trabalho ainda é realidade...

No Brasil os negros continuam estudando menos, enfrentando maiores dificuldades para conseguir emprego e recebendo salários menores.

O preconceito contra os negros, uma herança oriunda do período da escravidão, ainda hoje é presente nos núcleos sociais, mesmo que alguns defendam que isso é coisa do passado. E, no contexto de inserção no mercado de trabalho, a desigualdade entre negros e pessoas de outras raças é comprovada, ocasionando outro eixo de discussão sobre o tema.

Quem são os brasileiros que estão há um ano ou mais procurando emprego? Os negros e as mulheres são a maioria (mais de 60%), como mostra matéria publicada hoje no jornal O Globo.

Esses dados vão na mesma linha dos que eu tenho mostrado aqui. Em cada divulgação da taxa de desemprego médio, eu costumo olhar para os dados desagregados, para a desocupação entre negros, mulheres, jovens, brancos. E fica muito evidente como o mercado de trabalho brasileiro, mesmo quando os empresários reclamam de falta de mão de obra, prefere alguns e pretere outros. Ele discrimina na hora de contratar, prefere homem branco, não muito jovem. Mulheres, negros e jovens são discriminados.


Se liga nos Médicos Cubanos é uma exemplo...

Os cubanos, assim como os demais profissionais estrangeiros, irão atuar nos 701 municípios que não atraíram o interesse de nenhum médico brasileiro, a despeito da bolsa de R$ 10 mil oferecida pelo governo brasileiro. Ou seja: não estão tirando oportunidades de ninguém. Mas, ainda assim, são hostilizadas por uma classe que, com suas atitudes, destrói a própria imagem. Preocupado com a tensão e com as ameaças dos médicos, o ministro Alexandre Padilha avisou ontem que o “Brasil não vai tolerar a xenofobia”


“Em nenhum país do mundo, os médicos cubanos estão sendo tratados como no Brasil. Aqui, são chamados de escravos por parte da imprensa brasileira e por médicos tupiniquins, como se estivessem roubando seus empregos e suas oportunidades. Em Fortaleza, quando o médico cubano negro foi cercado e vaiado por jovens profissionais brasileiras”

E eu pergunto: - Por que será?


Apesar de as iniciativas de promoção da igualdade racial terem conquistado cada vez mais destaque e espaço, as ações voltadas para a inserção dos negros no mercado de trabalho ainda são tímidas para enfrentar o tamanho do preconceito existente na sociedade brasileira. “Eu já senti muita discriminação. Ser negro no Brasil é ser lixo. Os negros não têm estudo e têm mais dificuldade para arranjar emprego”, conta a copeira Neuza Manhães, que está desempregada desde o começo deste ano e sustenta sozinha sete pessoas na cidade-satélite de Samambaia, no Distrito Federal. Sua opinião, infelizmente, é confirmada pelos números. A taxa de desemprego, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2003, elaborada pelo IBGE, mostra as variações em função da cor da pele: no grupo com mais de 16 anos de idade, a taxa de desemprego é de 8,7% para os brancos e de 10,7% para os negros. O grau de informalidade também é maior entre os negros. Enquanto 42% dos brancos têm carteira assinada ou são funcionários públicos, entre os negros esse percentual é de 31,4%. Isso significa que menos de um terço dos trabalhadores negros tem acesso a direitos trabalhistas, como décimo terceiro salário, adicional de férias, seguro desemprego e benefícios previdenciários. A situação é ainda pior para a mulher negra, já que somente uma em cada quatro possui algum vínculo formal de trabalho.

Tem gente que fala que é porque o mercado quer pessoas mais qualificadas, está ficando mais exigente, mas isso não é verdade. O que explicaria o fato de a taxa de desemprego entre as mulheres ser maior apesar de elas terem estudado mais, terem mais escolaridade?

Essa é uma questão que me preocupa há muitos anos. Tenho olhado os indicadores raciais e de gênero, na hora de analisar as estatísticas. Há estudos que comparam pessoas com o mesmo nível de escolaridade, mas com cor diferente. O desemprego é maior, e o salário é menor para negros do que para brancos, mesmo com o mesmo nível de escolaridade.

As dificuldades para se colocar no mercado de trabalho são formadas muito antes do momento da procura do emprego, especialmente pelas diferenças de acesso à educação.
Em 2001, 10,2% dos brancos e apenas 2,5% dos negros tinham concluído o ensino superior, com uma vantagem de quatro vezes para os brancos. A situação já foi pior, porque em 1960 o número de brancos com diploma universitário era 14 vezes superior ao dos negros. No entanto, a distância voltou a aumentar entre 1991 e 2000, quando o número de matriculados nas universidades passou de 1,4 milhão para quase 3 milhões, mas não houve maior inclusão de negros, uma vez que sua participação no sistema caiu ligeiramente, de 19,7% para 19,3%, de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano deste ano elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que elegeu como tema a igualdade racial. “A questão da igualdade racial é um problema monstruoso. Ao final do segundo grau, os negros já perderam a corrida há muito tempo. As políticas públicas que existem hoje são pífias”, diz Sergei Suarez Dillon Soares, pesquisador do Ipea que desenvolveu, em 2000, um estudo comparando as diferentes condições de negros e brancos no mercado de trabalho.

Car@s companheiros nem todos concordam que o sistema de vagas exclusivas seja a melhor forma de facilitar o acesso dos negros ao ensino superior. A Universidade de Campinas (Unicamp) adotou outra estratégia, que conserva o critério de seleção do vestibular dando um “crédito” a mais aos candidatos das minorias raciais - negros e índios - e aos
vindos de escolas públicas. Os do primeiro grupo recebem dez pontos a mais na nota do exame de seleção, e os do segundo, 30 pontos. Dessa forma, eles obtêm uma vantagem extra na hora de competir com os demais estudantes, porém precisam provar que têm o conhecimento necessário para entrar na Unicamp. “O sistema de cotas proposto pelo ministério trata o problema da forma errada. A forma correta de tratar esse problema seria por meio de uma política mais positiva de incentivo para que as instituições aumentem a inclusão da forma como acharem melhor. Tem muita gente inteligente na universidade, é a universidade que tem de encontrar a melhor maneira de lidar com essa questão, a
universidade tem de ter autonomia”, diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado se São Paulo (Fapesp) e reitor da Unicamp até abril de 2005. Para Nelson Fernando Inocêncio da Silva, professor da UNB e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da mesma universidade, é necessário que seja feito um trabalho para que a sociedade brasileira compreenda a gravidade da situação. “O Brasil é signatário de vários documentos de combate à discriminação, mas não basta assinar documentos. É preciso que o país se comprometa com políticas públicas que alterem as condições de vida da população negra”, acredita Inocêncio da Silva.


Distante ainda esta a igualdade

O Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil 2005 - Racismo, Pobreza e Violência, lançado em novembro pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), derruba o mito da democracia racial brasileira. O relatório, que contou com a participação de 30 pesquisadores, faz um levantamento abrangente e esclarecedor de indicadores brasileiros nas áreas de desenvolvimento humano, renda, educação, saúde, emprego, habitação e violência e conclui que em todas essas esferas os negros estão em posição desfavorável. Dividida em seis capítulos, a obra é acompanhada de um CD do Atlas Racial Brasileiro, banco eletrônico que reúne uma ampla série histórica de dados sociais desagregados por cor/raça, com cerca de 100 indicadores sobre o país, as cinco regiões, os estados e o Distrito Federal. “O tema do relatório se insere na preocupação do Pnud em relação aos grupos vulneráveis. Esperamos que as políticas propostas comecem a ser discutidas pela sociedade”, afirma Guilherme Assis de Almeida, um dos principais colaboradores do relatório e coordenador da unidade de direitos humanos e cidadania do Pnud.


Quando o Brasil diz que não discrimina, que a sociedade é igualitária, em que as pessoas ascendem pelo mérito, é muito bonito, mas não é real.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

Fonte: oglobo.globo.com/.../2013/

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