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sábado, 21 de setembro de 2013

Osvaldão e as versões sobre a morte dos guerrilheiros do Araguaia nem sempre coincidem. Até hoje não se sabe exatamente quantos tiveram as cabeças cortadas e os corpos abandonados

Eu sei que você talvez  vai dizer que nunca ouviu falar deste cara, que não foi do seu tempo ou que você não acompanhava direito esta história de guerrilha do Araguaia. Mas considere apenas o seguinte: Com esta bagagem histórica aí, como é que uma pessoa ia poder ficar invisível e anônima a este ponto?
Vivemos ainda sob um governo integrado por este mesmo pessoal ligado à chamada ‘esquerda revolucionária’. Há uma penca de ex-guerrilheiros aí, famosíssimos, popularíssimos, indenizadíssimos e o pobre do Oswaldão aí, neste quase ostracismo?

Certo. Dá pra encontrar dados sobre ele na internet como eu achei. Até um livro, objeto da resenha que republico abaixo foi feito, mas não se trata disto. Se trata de entender como – e porque – a memória de figuras gigantes de nossa história como esta, ficam sempre na margem entre a fama e a invisibilidade.

Que parte de nossa memória se quer apagar?
Afinal, Oswaldão não foi apenas mais um guerrilheiro nas selvas do Araguaia. Oswaldão comandou um dos dois batalhões, talvez tenha sido – não se esclarece isto ainda direito – o principal comandante militar daquela guerrilha trágica.

Nascido em 1938, Osvaldo Orlando da Costa, o "Osvaldão" era um negro de 1.98 metro, de altura,100kg e ex-campeão carioca de boxe, que se tornou um mito entre a população local. . Nascido na cidade de Passa Quatro, Minas Gerais, radicou-se no Rio de Janeiro, onde foi campeão de boxe pelo Botafogo e chegou a ser tenente do Exército. Engenheiro formado em Praga, na Checoslováquia, era inteligente, gostava de dançar e tinha um bom humor inconfundível. Em meados dos anos 60, sua aguçada sensibilidade social levou-o ao Partido Comunista do Brasil, PCdoB. Osvaldão foi um dos primeiros militantes comunistas a chegar na região do Araguaia, em 1967, com a missão de implantar uma guerrilha junto com outros companheiros. De acordo com as instruções do Partido, que pregava uma mistura dos militantes com os habitantes da região, estabeleu-se como garimpeiro, caçador e mariscador. Tornou-se, em pouco tempo, o maior conhecedor da área ocupada pelos guerrilheiros e bastante popular entre os camponeses e agricultores do Bico do Papagaio, a região no sul do Pará onde o PCdoB se estabeleceu.


Como comandante do Destacamento B, um dos três do movimento guerrilheiro, ele participou com êxito de vários combates contra as tropas do governo, a partir de 1972. Devido à sua formação militar, adquirida nos tempos em que foi oficial da reserva do CPOR, realizado concomitantemente com o curso de Máquinas e Motores na Escola Técnica Nacional no antigo Estado da Guanabara e de um posterior treinamento militar na China, era um dos
guerrilheiros mais temidos pelo Exército. Considerado mítico e imortal pelo povo morador do Araguaia, que o acreditava ser capaz de transformar-se em pedra, árvore ou animal.

Foi o autor da primeira morte militar durante a guerrilha, quando durante um encontro na mata com uma patrulha do exército matou a tiros o cabo Odílio Cruz Rosa. Osvaldão foi morto com um tiro de carabina quando descansava num barranco, em 4 de fevereiro de 1974, nos estágios finais da ofensiva militar que aniquilou a guerrilha, pelo mateiro Arlindo Vieira 'Piauí', um conhecido seu que na época havia virado guia das patrulhas militares.

A versão mais difundida é de que teria sido morto com um tiro pelo mateiro Arlindo Piauí, guia de uma patrulha de paraquedistas, sua cabeça teria sido decepada e depois exibida ao povo, enquanto os militares festejavam o abate do inimigo. Mas até mesmo essa versão já foi rechaçada por outros camponeses, que afirmam que Piauí assumiu a morte apenas para receber a recompensa do Exército. Segundo essa versão, o corpo de Osvaldão estava com a cabeça quando foi exposto pelos militares.


O caso de Arildo Valadão, cuja morte e decapitação foi descrita detalhadamente pelos ex-guias do Exército Sinésio Martins Ribeiro e Iomar Galego, mostra que também os militares assumiram mortes praticadas por mateiros, provavelmente para ocultar as expedições clandestinas, que ilegalmente envolviam a população civil.
Em seu livro, “Bacaba”, sobre a guerrilha do Araguaia, o tenente José Vargas Gimenez, conhecido como Chico Dólar, afirma: “No dia 24 de novembro, na região de Pau Preto, o guerrilheiro Arildo Airton Valadão (Ari) foi morto e decapitado por um GC, comandado por um segundo sargento”. Esqueceu de dizer que o sargento ficou no helicóptero e que o tal GC (Grupo de Combate) era formado apenas por mateiros, como contam os ex-guias.
As circunstâncias da morte e decapitação de Jaime Petit, contada de forma pungente por seu Sinésio, assim como a de Adriano Fonseca Filho, cuja cabeça foi carregada pelo mateiro Raimundo da Pedrina desde a Grota do Franco, onde foi morto, até a base de Xambioá, são narradas assim por Chico Dólar, no mesmo livro: “Adriano foi morto pelos paraquedistas que atuavam na região de Xambioá. Ambos [ele e Jaime] foram decapitados e tiveram suas mãos cortadas”.

O caso mais polêmico é o de Rosalindo de Souza, o Mundico, que, segundo o diário de Maurício Grabois, foi morto acidentalmente quando limpava a arma.
Já os militares afirmam que teria sido justiçado pelos guerrilheiros. Como observa o livro “Habeas-Corpus, que se apresente o corpo”, da Secretaria de Direitos Humanos, “tal informação, entretanto, poderia representar mais uma tentativa de desmoralizar os militantes mortos, como era prática rotineira dos órgãos de segurança”.

Em depoimento prestado ao Ministério Público em 2001, anexado aos autos, Sinésio afirma ter visto a cabeça de Rosalindo quando estava preso no curral da base de Xambioá, e diz que seu corpo foi enterrado nas terras de João Buraco, frequentadas por guerrilheiros. Buraco, depois de preso, teria apontado a sepultura para os militares.

“O Exército não havia travado combates nesse local, e por isso disse que foram os guerrilheiros que mataram o Mundico. O Exército chegou lá por volta de 4 ou 5 dias após, cavou a sepultura, cortou a cabeça e enterrou novamente o corpo. A cabeça foi levada para a base e mostrada aos presos para reconhecimento. Ela estava meio destruída, o cabelo solto e ficou exposta uns dois dias perto do Barracão do Exército e foi enterrada perto de um pé de jatobá”...

"Um herói negro desconhecido que não fugiu da luta por um país mais justo. Apesar das
inúmeras tentativas de apagar o nome de Osvaldão da história, ele está junto de tantos outros heróis negros que dedicaram suas vidas à uma causa, a da liberdade e justiça..."

Um afro abraço.
fonte:Secretaria de Luta Anti-Racismo do PC do B

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